São Paulo, sábado, 2 de abril de 1994
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Rarará

FLAVIO GOMES

Era para ser mais um daqueles dias, ontem. Feriado, ninguém na rua, aquela preguiça pascal. Chego à Redação e inicio o procedimento rotineiro de dar uma olhada nos jornais e acionar meu computador –um dos poucos com quem não tenho problemas pessoais.
Ele não me diz bom dia, como alguns fazem demagogicamente por aí. Acesso um dos vários diretórios, aquele que traz as notícias das agências internacionais e... bingo! Parem as máquinas! (Puro jogo de cena, porque as máquinas ainda estão paradas, o jornal só roda à noite.) Na tela, a frase que espero desde dezembro: "O regresso de Prost".
Diz o despacho que numa reunião secreta com Ron Dennis (o bam-bam-bam da McLaren), Alain decidiu que a partir de 1º de maio, no GP de San Marino, assume o carro de Martin Brundle, que por sua vez vai para a F-Indy.
Reviro meus arquivos. Em algum momento nos últimos meses, tenho certeza, escrevi exatamente isso. Lembro de um "Warm Up" cujo título era "Prost corre". Não encontro, mas era isso mesmo. Brundle na Indy, para mim, também não era novidade. Já havia dado essa informação.
Tudo se confirma. Para quem aguentou meio mundo cobrando a derrota de Senna para Schumacher domingo passado, como se eu dirigisse o carro e não ele, era uma modesta, porém importante, recuperação. Eu disse, lembra?, olha o Prost aí, ó o Brundle indo embora, creiam em mim, fariseus!
Feito o barulho, espaço reservado aí do lado onde está o Corinthians, chamo o texto da agência na íntegra em minha tela.
Primeiro de abril. Não é possível. Leio de cabo a rabo as 21 linhas à minha frente. Primeiro de abril. Brincadeirinha. Piadinha do "L'Équipe", diário esportivo francês que eu tinha na mais alta estima. Sempre levei a sério. Por muito menos, muito jornal por aí já foi empastelado, penso. Será que tem alguém do IRA de férias em Paris a quem eu possa sugerir um atentadozinho sem maiores consequências?
Telefono. Primeiro para um amigo do "L'Humanité", Pierre Michaud. Só volta domingo. Legal. Disco para o "L'Équipe". A idéia inicial é dizer que tem uma bomba prestes a explodir no térreo, me identificar como Carlos, o Chacal, e desligar. Atende Gilles Navarro. Outro amigo. Foi uma piada, hoje é Primeiro de Abril, diz, todo mundo sabe disso. Rárárá. Que engraçado.

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