São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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Ricupero herda parte mais difícil

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O novo ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, ficou com a parte mais difícil do Plano FHC, que é a introdução do real. É nesse momento que o governo vai travar a batalha decisiva contra a inflação.
Como observa o economista Francisco Lopes, da consultoria Macrométrica, as regras de entrada do real indicarão o tamanho da aposta: se é pela estabilidade de fato ou se é um arranjo para levar a economia até o próximo governo.
Para um membro da equipe econômica tem tanto problema na passagem para o real que será grande a tentação de ficar na URV.
Na próxima terça-feira, quando toma posse na Fazenda, Ricupero deve adiantar algumas "indicações para o mercado", como ele mesmo disse. E há muitas dúvidas.
A primeira delas é data de entrada do real. O 1º de maio já está descartado. E não há, no momento, nenhuma possibilidade de se advinhar se será em 1º de junho ou julho, ou ainda em agosto.
Antes de apontar a data, o novo ministro precisará indicar as condições necessárias para a estréia do real. Até aqui, a equipe econômica vem dizendo que o real seria introduzido depois que a economia estivesse operando em URV.
Ainda está longe disso. Embora já tenham saído alguns acordos entre indústria e comércio, esses setores continuam numa queda-de-braço para saber quem arcará com a perda do lucro financeiro.
Esse era o lucro de quem vendia à vista e pagava a prazo, como supermercados, livrarias etc. Esses setores querem agora que seus fornecedores financiem seus negócios. Os fornecedores, naturalmente, acham que o comércio deve se financiar nos bancos.
Mas ainda faltam regras para que o mercado financeiro passe a operar plenamente em URV. E enquanto não se completa o uso da URV, a inflação em cruzeiros reais vai escalando, como era previsto.
Já está na faixa dos 45% ao mês. E a questão é saber qual taxa de inflação precipitaria a entrada do real. Para abril, os consultores especializados não contam com uma explosão inflacionária. Ao contrário, acham que os preços de alimentos, que pressionaram no mês passado, estão recuando.
Em maio, porém, entra o tradicional aumento de inflação puxado pelos preços das roupas de inverno. Nesse caso, não seria oportuno entrar com o real em junho, pois a pressão inflacionária do momento poderia contaminar a nova moeda.
Depois de escolhida a data, ainda faltará definir as regras de emissão do real. O episódio envolvendo a troca de versões da Exposição de Motivos da primeira medida provisória do plano deu bem a medida das dúvidas da equipe.
Na primeira versão, três parágrafos diziam que o real seria moeda lastreda nas reservas do BC e em ações de estatais negociáveis no mercado internacional. Na segunda, esses parágrafos sumiram e entrou outro dizendo apenas que o real seria moeda forte.
Hoje, há consenso entre membros da equipe que a nova moeda terá de ser lastreada. Mas em que quantidade isso será feito e sob quais regras, ainda falta definir. É outro ponto que Ricupero deve indicar na terça-feira.

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