São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994 |
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BC terá lastro de um dólar para cada real
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
Cada real posto em circulação vai corresponder a um dólar guardado nas reservas do Banco Central. A taxa de câmbio de um real igual a um dólar terá assim garantia concreta e será um limite ao poder do Banco Central de emitir moeda. Hoje, praticamente não há restrições a este poder. Toda vez que falta dinheiro para o governo, o Banco Central pode emitir para cobrir o buraco. Isso, ao longo de anos, inundou a economia de dinheiro sem valor, papel pintado, desmoralizado. É uma das principais causas da inflação. Por isso, o Plano FHC prevê que a nova moeda terá lastro. O Banco Central só poderá colocar mais reais em circulação se tiver nas suas reservas os dólares (ou ouro, ou outras moedas equivalentes) que garantam o valor do dinheiro local. Em países de economia estável, as pessoas acreditam no valor da moeda porque sabem, por experiência de anos, que o Banco Central não emitirá dinheiro para cobrir rombos nas contas do governo. A moeda é aceita em confiança. Nos países de economia instável, ocorre o contrário. As pessoas sempre acham que o governo vai gastar o que não tem e mandar o Banco Central rodar a máquina de imprimir dinheiro. Para que se restabeleça a confiança, é preciso que, no início, a nova moeda tenha um valor concreto, isto é, possa ser efetivamente trocada por dólar (ou valor equivalente) na cotação fixada pelo Banco Central. A economia brasileira tem um Produto Interno Bruto (PIB, quantidade de bens e serviços produzidos no país) de US$ 450 bilhões. A quantidade de dinheiro disponível é bem menor, US$ 120 bilhões. Funciona assim porque os bens e serviços não são transacionados ao mesmo momento. A quantidade de papel moeda na praça (esse que as pessoas levam no bolso ou que está em depósito à vista nos bancos, podendo ser sacado a qualquer momento) é ainda menor, aproximadamente US$ 5,5 bilhões. Os outros US$ 114,5 bilhões estão aplicados em fundos, poupança, títulos do governo etc. São os ativos financeiros. Rendem juros e podem ser transformados em dinheiro vivo. Para que todo o novo dinheiro brasileiro tivesse lastro, seria necessário, portanto, que o Banco Central possuisse reservas no valor de US$ 120 bilhões. Tem bem menos do que isso. As reservas hoje devem chegar a US$ 35 bilhões. Mas economistas da área acreditam que essas reservas são suficientes para lastrear o real. Texto Anterior: Para as eleições, tome Bomfim Próximo Texto: Novo sistema só funciona com confiança Índice |
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