São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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Esquema tático não pode depender de Raí

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Há duas temporadas, não restava a menor dúvida: Raí era o melhor jogador do mundo. Desde Zico, não havia tal unanimidade. Só que Zico pegou o pleno reinado de Maradona. Raí, nem isso.
Pois bem: hoje, em todas as pesquisas publicadas, Raí é o nome mais execrado da seleção brasileira. Até mesmo em Recife, a capital nacional do otimismo, ouviam-se queixas e piadinhas sobre o futebol de Raí.
E, na exata proporção inversa da aceitação pública de Romário, desprezado de início por Parreira (com a minha modesta concordância, confesso), Raí segue merecendo toda esperança do treinador. Ainda no final desta semana, Parreira reiterou sua decisão de tentar reabilitar o jogador a qualquer preço. E acrescentou, aliás, com a anuência de qualquer observador do futebol, que não há outro Raí na praça. Isto é, um meia que conjugue a seus pés os três verbos vitais do futebol: combater, armar e finalizar.
Acrescente-se a isso um raro talento de cobrar faltas. E mais: massa física, altura e cabeceio. Trata-se, portanto, de um jogador que beira à perfeição. E provou isso na prática, durante os dois primeiros anos da década que segue adiante. O diabo é que, em quase dez anos de carreira, Raí só exibiu tal forma nesses dois anos em que o São Paulo ganhou tudo e ele era o maestro da equipe.
Vale lembrar que, às vésperas da chegada de Telê no Morumbi, Raí arrastava-se em campo, sem imaginação nem talento. Estava, a bem dizer, na marca do pênalti, pois o São Paulo começava a desistir de seu futebol, que se transfigurou com Telê.
Contudo, no ano passado, nem mesmo Telê deu-lhe alento. Voltou a jogar, no tricolor como na seleção, aquela mesma bolinha reticente e ausente que hoje lhe nega um lugar de titular até mesmo no Paris Saint-Germain.
O que aconteceu com Raí? Juro que não sei. Desconfiei, de início, que fosse mera questão de preparo físico. Com tal massa muscular, demoraria mais que os companheiros para entrar em forma. Mas, sob o comando do mesmo Moraci Sant'Anna que promete recuperá-lo, não foi além das pernas. Cuca? É possível. Mas quem conhece Raí sabe que se trata de um sujeito frio, equilibrado, sem problemas pessoais aparentes, dedicado, boa gente, vida regrada, QI acima da média dos seus pares e tudo o mais.
Como? Simples: alterando a estrutura do meio-campo, que se baseia num quadrado, com dois volantes (Mauro Silva e Dunga), um meia (Raí) e um outro meia-ponta (Zinho), por dois triângulos pontiagudos e incisivos pelas laterais do campo, o melhor caminho para o gol.
E com jogadores que tanto podem se alternar pelas laterais como armar pelo meio e atacar pelas pontas. Quais? Jorginho e Cafu pela direita; Branco e Leonardo ou Mazinho, pela esquerda. Qualquer um faria também o trabalho de Dunga. Com uma vantagem: seriam dois a ajudar Mauro Silva para fechar a defesa.
Isso não impediria o aproveitamento de Raí, que poderia ser o quarto homem, a municiar e a apoiar Bebeto e Romário ou Muller. Se não desse pra ele, uma infinidade de candidatos estaria à disposição, desde Zinho a Dener, passando por Edílson, Viola (que é meia, embora jogue com a 9), Rivaldo e todos os demais meias que só conjugam aos seus pés dois dos três verbos vitais do futebol: armar e finalizar.

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