São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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Autor recusou obra no início

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Michelângelo Buonarroti (1475-1564) queria dizer tudo exclusivamente por meio da figura humana esculpida.
Quando, em 1508, o papa Júlio 2º lhe encomendou um afresco (pintura feita sobre camada de revestimento recente) para o interior da Capela Sistina, no Vaticano, de início recusou.
Havia brigado com o papa, que lhe tinha pedido, três anos antes, para esculpir seu túmulo na Basílica de São Pedro. À medida que Michelângelo o fazia, as dimensões das esculturas eram diminuídas, em contratos subsequentes.
Logo, no entanto, mudaria de idéia a respeito da capela –e, não bastasse isso, sua primeira exigência foi que pudesse realizar a obra sozinho e sem ser observado, com exceção de alguma ajuda técnica.
Michelângelo mergulhou no trabalho como se o sonho frustrado de esculpir 40 figuras no túmulo papal tivesse agora outra saída.
Contou no teto nada menos que a história bíblica da Criação até Noé, os eventos se desenrolando do altar para a entrada principal.
Dividiu-o em campos e, em cada canto deles, pôs jovens nus. Nas laterais, alternou sete figuras de profetas e cinco de sibilas (profetisas).
Nas lunetas acima das janelas, pintou os ancestrais de Cristo. Foi um trabalho de mais de 20 anos, que se concluiu com a pintura das cenas do "Juízo Final" na parede do altar, em 1541.
No resultado, não são poucos os que notam à primeira vista que o magistral senso escultórico de Michelângelo –que se definia como apenas um escultor– está integral naquelas pinturas.
Tal qual Shakespeare em sua obra teatral e Beethoven no conjunto de suas sinfonias, ele expressou na Capela Sistina toda a gama dos sentimentos humanos. (DP)

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