São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994 |
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Autor recusou obra no início
DANIEL PIZA
Quando, em 1508, o papa Júlio 2º lhe encomendou um afresco (pintura feita sobre camada de revestimento recente) para o interior da Capela Sistina, no Vaticano, de início recusou. Havia brigado com o papa, que lhe tinha pedido, três anos antes, para esculpir seu túmulo na Basílica de São Pedro. À medida que Michelângelo o fazia, as dimensões das esculturas eram diminuídas, em contratos subsequentes. Logo, no entanto, mudaria de idéia a respeito da capela –e, não bastasse isso, sua primeira exigência foi que pudesse realizar a obra sozinho e sem ser observado, com exceção de alguma ajuda técnica. Michelângelo mergulhou no trabalho como se o sonho frustrado de esculpir 40 figuras no túmulo papal tivesse agora outra saída. Contou no teto nada menos que a história bíblica da Criação até Noé, os eventos se desenrolando do altar para a entrada principal. Dividiu-o em campos e, em cada canto deles, pôs jovens nus. Nas laterais, alternou sete figuras de profetas e cinco de sibilas (profetisas). Nas lunetas acima das janelas, pintou os ancestrais de Cristo. Foi um trabalho de mais de 20 anos, que se concluiu com a pintura das cenas do "Juízo Final" na parede do altar, em 1541. No resultado, não são poucos os que notam à primeira vista que o magistral senso escultórico de Michelângelo –que se definia como apenas um escultor– está integral naquelas pinturas. Tal qual Shakespeare em sua obra teatral e Beethoven no conjunto de suas sinfonias, ele expressou na Capela Sistina toda a gama dos sentimentos humanos. (DP) Texto Anterior: A obra divina passada a limpo Índice |
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