São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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Eleição legitima neofascismo na Itália

HUMBERTO SACCOMANDI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

A vitória da direita nas eleições parlamentares na Itália teve um efeito histórico: deu legitimidade política ao neofascismo.
Durante quase 50 anos os herdeiros do ditador fascista Benito Mussolini foram marginalizados do cenário político italiano. Agora voltam ao poder porque votar fascista deixou de ser tabu.
Os neofascistas da Aliança Nacional se tornaram o terceiro maior partido da Itália e parte fundamental do tripé de governo do empresário Silvio Berlusconi. Com um pé no poder, ninguém mais se envergonha de se dizer de direita.
Durante todo o período do pós-Guerra, os neofascistas sempre tiveram uma votação razoável, em torno dos 6%, mas nunca foram considerados parceiros políticos viáveis. O estigma do fascismo era poderoso.
Essa barreira foi rompida por Berlusconi. O magnata da mídia italiana entendeu que os neofascistas tinham uma imagem limpa, não comprometida pela escândalo de corrupção.
Tinham um líder jovem e carismático, Gianfranco Fini, de 42 anos. Ele faz parte da geração nascida após a guerra, que nem conheceu Mussolini.
E tinham também uma forte base eleitoral no sul da Itália, como havia demonstrado as últimas eleições municipais. Era tudo o que Berlusconi precisava.
Fini é responsável direto pela ressurreição neofascista. Após a apertada derrota nas eleições municipais, ele reformulou seu partido, procurando dissociá-lo do fascismo histórico.
Mudou o nome do Movimento Social Italiano para Aliança Nacional e rejeitou a classificação de neofascista.
Além disso, atualizou o programa da direita refutando o extremismo racista do francês Jean-Marie Le Pen para se aproximar de uma direita mais pragmática.
Esse processo de renovação incluiu, porém, o abandono da liturgia e de alguns símbolos tradicionais do fascismo como, por exemplo, a camisa preta.
Em outubro do ano passado deixou de ser comemorada pela primeira vez a Marcha sobre Roma, uma das mais tradicionais celebrações fascistas.
Hoje, mais do que nunca, é difícil traçar o identikit do neofascista italiano, que não se restringe mais a skinheads e senhores nostálgicos.
Mais fácil, porém, é individuar o seu eleitorado. Ele está basicamente concentrado no sul da Itália, a região mais pobre do país e mais atingida pela recessão e pelo desemprego (média de 20%). A Aliança elegeu 22 dos 24 deputados pela Província de Roma.
O neofascista é predominantemente jovem. A Aliança teve um desempenho muito melhor para a Câmara (para a qual se vota a partir dos 18 anos) do que para o Senado (para o qual se vota somente a partir dos 25 anos).

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