São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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gordinhas, a MINORIA SATISFEITA

As 7.200 latinhas entornadas por Claudia ao ano vêm engrossar a liderança da bebida no mercado diet –a Diet Coke tem 1,3% do volume total de refrigerantes vendidos no país. É muito para um mercado (que se imagina) restrito. Mas está em expansão. É formado hoje por 10 milhões de diabéticos (como Claudia) e 25 milhões de pessoas em regime que consumiram, no ano passado, US$ 230 milhões em produtos dietéticos.
Fernando Leão, especialista em fisiologia pelo exercício formado na Escola Paulista de Medicina, não se assusta. Ele presta consultoria às academias paulistanas Competition e Ativa e convive com muitas gordinhas. Desenvolveu, a pedido da Revista da Folha, uma série de exercícios para Claudia Jimenez. "Ela deve caminhar 40 minutos por dia em ritmo levemente ofegante", diz Leão, 79 quilos, 1,80 metro. "Também deve fazer exercícios abdominais e alongamento depois da caminhada". Perda de tempo. A caminhada, Claudia até topa, embora não pratique atualmente. O resto troca por sapateado, que já faz há 9 anos. E sexo: "Estou começando uma relação e transo para cacete!"
Filha de um cantor de tangos e caixeiro viajante e uma enroladora de bala de coco, Claudia nasceu na Barra da Tijuca, Rio, com 4,8 kg, "para avisar que cheguei". Sempre foi gordinha e de certa maneira o peso impulsionou sua carreira artística. Ela estreou em teatro profissional em 1978, na peça "Opera do Malandro", de Chico Buarque, porque o diretor Luiz Antonio Martinez Correa (1950-1987) procurava uma das prostitutas do elenco, a gordota Mimi Bibelô. Claudia chegou a ele, interpretou, dançou, cantou e foi contratada.
A primeira fala da personagem, que se fingia de virgem para os clientes e queria casar com um embaixador: "Embaixadora sem cabaço, será que o governo deixa?". A platéia vinha abaixo e com ela um dia o diretor de TV Mauricio Sherman, que a levou para a Globo. Ela participou da abertura do programa "Viva o Gordo", de Jô Soares, e deu vida à insaciável Pureza, mulher de Apolo (aquele do bordão "Ainda morro disso"), em "Chico City" –o comediante queria o contraste entre a mulher gorda e o marido pequeno. "A Pureza só pensava em transar", lembra Claudia.
Depois, na "Escolinha", Claudia Jimenez viu a fama com a desbocada dona Cacilda, redonda, de peruca de Xuxa na cabeça e a frase "Beijinho, beijinho, pau, pau" na boca. "Era o salário mais alto da turma", orgulha-se.
Com Cacilda, ganhou "muita grana, muito prazer e muito carinho do público". Nessa época, chegou a pesar 110 quilos. Mas perdeu o controle sobre sua carreira. "Para os outros, eu e a Cacilda éramos a mesma pessoa", reclama. Despida do personagem, ela continuava fazendo aparições esporádicas em filmes, peças e curtas-metragens. Até que resolveu romper com o programa, numa saída conturbada que a colocou em atrito com o humorista Chico Anysio.
"Ele foi meu pai", admite Claudia. "Me sinto como uma filha travessa que está matando aula". O afeto deve-se em parte à ajuda que o humorista deu à atriz em 1986. Nesse ano, Claudia foi ao médico para curar uma tosse renitente e descobriu que tinha câncer, um tumor maligno no mediastino, atrás do coração. "Me deram um mês de vida", emociona-se.
O diagnóstico não se cumpriu e a atriz curou-se da doença. "Foi uma porrada para eu acordar, um renascimento", conclui. "E Chico Anysio bancou tudo, foi o pai que eu já não tinha". A experiência deve render um livro, em que Claudia Jimenez conta sua vida às voltas com a quimioterapia, "uma kriptonita". Hoje, ela convive com uma diabetes controlada, que a impede de comer açúcar e seus derivados. Por isso, aproveita para lançar um apelo: "Restaurantes de São Paulo, criem sobremesas dietéticas!". O retorno financeiro é garantido. Afinal, Claudia está na cidade.

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