São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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Despreparo 'derruba' empreendedor novato

JOSÉ VICENTE BERNARDO
EDITOR-INTERINO DO TUDO

A realização profissional, financeira e pessoal –em outras palavras, a felicidade– de quem deixa a condição de assalariado para tentar a sorte em um negócio próprio está intimamente ligada à maneira como é feita a preparação para essa mudança.
O domínio de aspectos psicológicos –como a consciência de uma possível perda de status–, materiais –estar preparado para investir durante pelo menos um ano– e estratégicos –pesquisar o mercado e avaliar sua afinidade com ele– é o principal fator de sucesso do novo empreendedor.
É possível dividir os empreendedores em duas categorias, segundo Silvio Passarelli, 43, diretor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e consultor de planejamento e marketing do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
Uma delas engloba profissionais entre 40 e 45 anos de idade que tiveram sucesso em suas carreiras como assalariados. "Eles acumularam capital e conhecimento e dominam o funcionamento do negócio e do mercado. Mas sentem-se órfãos com a perda da estrutura e da segurança que o velho emprego garantia", diz Passarelli.
"Eles sofrem um pânico inicial dois ou três meses depois de inaugurar a empresa, pois trabalham mais, ganham menos e têm que se alternar em funções de diretor e de office boy", diz o consultor.
Por outro lado, suas chances de crescimento não têm limites. Não ficam presos a promoções, planos de carreira ou demissões de colegas para subir de posto. "Quem vai julgar sua competência é o mercado, onde não há paixões, perseguições ou privilégios. Ele é frio e justo e premia quem trabalha direito", diz Laerte Leite Cordeiro, 62, especialista em orientação profissional.
O Sebrae estima que 90% dos empreendedores dessa categoria prosperam e se sentem felizes.
O segundo tipo de empreendedor é formado por profissionais que não atingiram cargos executivos, têm pequeno capital acumulado, forte desejo de liberdade e sentem-se maiores do que os cargos que normalmente ocupam.
A "mortalidade" nesse grupo é elevada –cerca de 80% das microempresas fecham antes do primeiro ano de funcionamento. Sua maior dificuldade é a falta de conhecimentos de gestão administrativa, de produção, finanças, recursos humanos e vendas. "A sensação de frustração e perda aparece quando o bolso vai mal", diz Passarelli. "Em compensação, as ambições desses profissionais são menores. Quem conhece o mercado acaba se dando bem."
Carlos Alberto de Siqueira Bueno, 34, abriu há dois anos a Helm Representações Comerciais, depois de trabalhar como analista de sistemas e vendedor em grandes empresas. "A sensação de realização varia conforme o dia", diz ele. "Mas, em geral, é gratificante."

LEIA MAIS
sobre realização profissional na pág. 9-2.

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