São Paulo, domingo, 3 de abril de 1994
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Um guia para entender o que se passa nas novelas da Globo

ZECA CAMARGO
ESPECIAL PARA O TV FOLHA

"Levem-me ao seu líder" é um velho clichê de filmes B de ficção científica, mas pode ser muito bem usado por quem não assiste novelas há muito tempo e resolve passar ma noitada ligado na produção atual do gênero. Nada faz muito sentido e sua vontade é clamar por ajuda. Como alguém que tinha acompanhado capítulos televisivos de uma história pela última vez em "Vale Tudo" (e antes disso, em "Dancin'Days"), eu tive a chance de passar por essa estranha experiência em um sábado, dia 12 de março.
"Sonho Meu" começa com Beatriz Segall aos prantos com Elias Gleizer. O sotaque do ator é italiano, mas logo se descobre que sua origem é polonesa. Será uma novela sobre imigrantes? Não. Imediatamente a cena muda para um hospital. "Cláudia" está muito mal. Tão mal que ela é capaz de dormir com o ensurdecedor bip de um aparelho hospitalar no seu quarto. O que ela teve? Ninguém diz. Entrando e saindo de salas do hospital, dr. Fontana declara seu amor por uma mulher mais jovem. Então a novela é um drama de hospital? Não vale a pena esperar para saber.
Em "Olho no Olho", Nico Puig diz que faz qualquer coisa para tirar a mãe (Maria Zilda) de lá (onde? ela não parece estar presa...), mas ela implora que ele não use seus poderes. Novela sobrenatural? Sim –e com efeitos especiais. Parece que mais alguém tem poder, Alef –que se fosse poderoso mesmo, já tinha mudado seu nome há muito tempo...
No meio desse clima, Cleide Yáconis dá uma receita de "ratatouille". Iara Jamra evoca uma "culpa atávica" masculina. Ainda tem uma estatueta misteriosa e Tony Ramos aparece dizendo que quer "voltar à batina". Cruzes! Bel Kutner confessa ao pai que, para agradá-lo, casou-se com um cafajeste. Maria Zilda (solta?) se conforta com Patricia Travassos pelo fato de dividirem o mesmo homem e, no que deveria ser um clímax, Nico Puig declara que está com raiva do mundo... Isso é que é capítulo de sábado!
Já "Fera Ferida" dá uma esfriada. Édson Celulari chora ao ler uma poesia (ruim) e isso o inspira a criar um jornal polêmico –e com uma excelente visão de marketing, decide chamá-lo de "O Arroto". Já que o cenário é uma cidade pequena, ela tem que estar cheia de gente esquisita e de políticos. Esses variam de um soberbo José Wilker a um autocaricato Lima Duarte, cuja proeza maior é montar um esqueleto completo com um conjunto inicial de fêmures que acha sob sua escrivaninha. A maior diversão do capítulo foi a descoberta de que Arlete Sales é gêmea de Emma Thompson.
Depois de quase quatro horas na obliviedade, aparecem algumas considerações. Além das perguntas mais objetivas (leia quadro nessa página), dá para dizer que as novelas estão um pouco mais rápidas –nos cortes, não na narrativa. Ou que uma nova geração de atores está renovando a maneira de representar na TV. De fato está, mas a que preço...

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