São Paulo, segunda-feira, 4 de abril de 1994 |
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Sem-terra querem triplicar invasões este ano
AMÉRICO MARTINS
No ano passado, segundo a própria entidade, 55 fazendas foram invadidas pelos sem-terra. "Este ano, o MST vai trabalhar para fazer pelo menos o triplo de ocupações", diz Gilmar Mauro, coordenador nacional do MST. O principal incentivo para a mobilização dos sem-terra é a realização das eleições para presidente da República. Na avaliação dos sem-terra, invadir propriedades rurais é a forma mais eficiente de pressionar o governo pela realização de uma reforma agrária. Como os presidentes Fernando Collor de Mello e Itamar Franco fizeram poucas desapropriações, o movimento julga que é importante dar uma demonstração de força para que o próximo governo dê mais atenção ao tema. Os sem-terra pretendem fazer invasões "massivas", segundo Mauro. Eles querem mobilizar entre 500 e 5.000 famílias a cada operação. O MST aposta que o resto da sociedade também vai fazer grandes manifestações. 'Ensaios' Além das invasões, o MST está organizando manifestações de rua e ocupações de prédios de órgãos públicos ligados à reforma agrária –como o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e as representações do Ministério da Agricultural. Organiza também o seu congresso nacional, que será realizado no início de 95. "Vão acontecer grandes mobilizações em 94. Os ensaios que estamos vendo dão a imagem do que serão os próximos meses", diz Mauro. Para ele, as invasões "espontâneas" –que não são organizadas pelo MST– também devem crescer. "O povo vai mesmo, porque é a única alternativa que tem", diz. Além da proximidade das eleições, os sem-terra acham que outro fator faz com que a conjuntura seja favorável às invasões: uma mudança na posição da sociedade sobre a reforma agrária. Eles acreditam que conseguiram "desideologizar" a reforma agrária. "A sociedade, de uma forma geral, já não vê mais o tema como coisa de comunista", diz Mauro. Para conseguir realizar seu plano, o MST vai contar com a ajuda de outros setores da sociedade. CUT Segundo Mauro, a CUT (Central Única dos Trabalhadores), a Igreja e algumas organizações não-governamentais (ONGs) colaboram financeiramente com os sem-terra. As próprias famílias assentadas em locais desapropriados para a reforma agrária contribuem, se quiserem e tiverem condições, doando 1% da produção para o MST. Mauro afirma que algumas prefeituras –"até do PFL"– também ajudam o movimento, emprestando ônibus para as manifestações pacíficas. Mão-de-obra Os sem-terra também se organizaram em outras áreas. Eles mantém escolas, fazem cursos técnicos (para formação de administradores de cooperativas e técnicos em tecnologias agrícolas) e jornais. A finalidade, segundo o Movimento dos Sem-Terra, é criar uma mão-de-obra que possa garantir a viabilidade dos assentamentos. Texto Anterior: Emenda não prevê corte constitucional Próximo Texto: Movimento vai apoiar a candidatura Lula Índice |
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