São Paulo, segunda-feira, 4 de abril de 1994
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Liberalismo atrai empresários e economistas

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Um modelo econômico liberal com um Estado pequeno e forte concentrado nas áreas de educação, saúde, infra-estrutra e saneamento básico é a receita para o Brasil deste fim de século, de acordo com um grupo representativo de economistas e empresários entrevistados pela Folha .
Maílson da Nóbrega, ministro da Fazenda no governo Sarney, defende o liberalismo econômico, mas reconhece que o governo no Brasil deve ter uma função de coordenação das políticas industrial e de ciência e tecnologia.
Para ele, um determinado grau de intervenção do Estado é necessário para a redução das falhas da economia de mercado.
"O mercado é eficiente para produzir, mas é cego no que se refere à distribuição da renda", afirma o ex-ministro.
O economista Paul Singer, da USP (Universidade de São Paulo), intelectual ligado ao PT (Partido dos Trabalhadores), diz que os mercados livres são necessários, mas considera fundamental manter a presença do Estado nos serviços sociais.
Singer defende a manutenção dos monopólios "naturais do Estado" nos setores de petróleo, telecomunicações e de eletricidade.
Roberto Teixeira da Costa, presidente da Brasilpar, empresa de consultoria, diz que já foi ultraliberal -"eu achava que o Estado não devia entrar em nada"-, mas preconiza, agora -"sem medo de ser chamado de comunista"-, um Estado "mínimo e forte" nas áreas fundamentais de saúde, educação e saneamento.
Burocracia
O deputado federal Roberto Campos (PPR-SP) diz que no Brasil não há alternativa ao liberalismo econômico.
"As economias centralizadas dos países comunistas fracassaram e os sociais-democratas, que criaram um Estado pesado, estão revendo esse modelo, como exemplifica a Suécia", afirma.
Para Campos, a burocracia é uma "masturbação", porque o burocrata não tem um centésimo das informações de que o mercado precisa para promover o crescimento econômico.
O papel do Estado, diz o deputado, é remover os obstáculos, promovendo a privatização maciça, a desregulamentação e a competição.
Para Mario Bernardini, diretor do Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), em um país como o Brasil, "que tem uma massa da população marginalizada do consumo e que tem fronteiras agrícolas de expansão", o desemprego se combate via crescimento.
Crescimento
O problema, segundo ele, é crescimento de forma sustentada, a uma taxa ideal de 5% ao ano, com um projeto nacional que vise o fortalecimento do mercado interno e o acesso ao mercado externo.
"Apesar de o Brasil ter aumentado suas exportações ao longo dos últimos 15 anos, sua participação no comércio internacional caiu de 1,5% para apenas 1%", conclui.
Emerson Kapaz, coordenador do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais) diz que a teoria de que a economia de mercado pode resolver todos os problemas sociais e econômicos de um país não funciona na prática.
Ele diz que o Estado deve desempenhar todas as suas funções clássicas e, neste fim de século, onde as funções básicas da produção passam a ser exercidas por robôs e máquinas, "garantir o acesso democrático da população ao conhecimento".

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