São Paulo, segunda-feira, 4 de abril de 1994 |
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Relator defende regras claras para o real
SÔNIA MOSSRI
"Embora o Congresso tenha dificuldades para saber o que acontece no dia de amanhã, eu acho que poderíamos ter mais clareza." O governo quer fixar as regras de conversão dos contratos quando for criado o real, expurgando parte da correção monetária. O relator também defende o aumento progressivo do mínimo e mecanismo de recomposição de perdas no caso de inflação no real. "Vamos trabalhar para uma aumento progressivo no valor do mínimo. É preciso ver onde o governo pode ir. O governo terá que ceder alguma coisa", disse. A seguir, os principais trechos da entrevista à Folha: * Folha – Um dos pontos mais polêmicos da MP 457 é o artigo 36, que determina o expurgo de parte da correção monetária no primeiro mês de criação da nova moeda. O governo quer fixar as regras por decreto. Como o sr. avalia isso? O sr. acredita que o Congresso queira também definir estes critérios? Neuto Fausto de Conto – A última etapa do plano aprofunda o programa de estabilização. Acho que teremos algumas divergências com relação a preços e salários. Vamos ter alguns debates sobre a questão da correção monetária. O governo julga que não vai haver inflação em real. Acredito que vamos ter muitas emendas de parlamentares nessas áreas. Ainda não sabemos se vai ter ou não inflação. Folha – Mas o sr. já deve ter uma opinião sobre o desejo do governo de fixar as regras contratuais mediante um decreto. Neuto – Eu acho ruim. Acho que o Congresso deveria fixar essas regras, embora tenha dificuldades para saber o que acontece no dia de amanhã. Se fossem fixadas às claras as normas, a negociação seria melhor. Eu acho que poderíamos ter mais clareza. A sociedade e todos têm uma certa dificuldade em acreditar que a conversão para o real será feita da melhor forma. Vamos ter que negociar muito com o governo. Folha – O sr. já foi procurado pelo governo para discutir o novo texto da MP da URV? Neuto – Não. Fui indicado pelo PMDB para assumir a relatoria na última quinta-feira. Preferi me inteirar melhor do assunto para começar as negociações amanhã. Folha – Que outras mudanças inevitáveis o sr. vai propor em relação ao texto do governo? Neuto – Eu queria colocar que nós vamos trabalhar para que haja uma negociação entre Congresso, governo e sociedade. É preciso construir um entendimento para que o plano econômico dê certo. Folha – A candidatura de Orestes Quércia, do PMDB se consolida e tem como ponto principal ataques ao Plano FHC. Isso não cria problemas? Neuto – Temos que pensar no país. Não vamos destruir um programa para destruir uma candidatura. Não é essa a nossa intenção. Pretendo conversar com a bancada, vamos trabalhar bastante. Embora a proposta seja do partido, será para o país. Folha – Como o sr. vai tratar a questão dos salários? Neuto – Um dos maiores problemas serão os salários. O discurso do ex-ministro Fernando Henrique é que não existe perda salarial. Todos os trabalhadores vão receber os contracheques nos próximos dias e então vamos ver. Folha – E o mínimo? O relator da primeira MP da URV, deputado Gonzaga Mota (PMDB-CE), propôs um mínimo de US$ 70 a partir de 1º de maio, que chegaria a US$ 100 no final do ano. O que o sr. acha? Neuto – O governo quer US$ 64. Entendemos as dificuldades –o governo tem uma folha de pagamento de benefícios da Previdência de 14 milhões de pessoas e os municípios têm encargos elevados com o funcionalismo. Apesar desses problemas, não podemos conviver com esse valor. Vamos tentar aumentar progressivamente o valor do mínimo. O ex-ministro do Trabalho Walter Barelli defendeu US$ 64. Eu li ele afirmando que o ideal seria de US$ 100 no dia em que o ex-ministro deixou o cargo. Texto Anterior: Liberalismo atrai empresários e economistas Próximo Texto: Equipe vai propor veto ao aumento do mínimo Índice |
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