São Paulo, segunda-feira, 4 de abril de 1994
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O Cardeal e a Revisão

CALOS EDUARDO M. A. TORO

O recente e impressionante sequestro do arcebispo de Fortaleza não tem, aparentemente, nada a ver com a atual situação da Revisão Constitucional. Contudo, tal evento evidencia a impossibilidade gritante de organizações não-governamentais produzirem resultados em áreas de competência do Estado.
Como ficar insensível ao drama de um grupo de homens bons tentando ajudar pessoas sem qualquer futuro ou princípios éticos? Vale a pena relembrar que a função precípua do Estado deveria ser dirigida às áreas de saúde, educação e segurança. Nossos constituintes precisam dar as respostas básicas para estas questões.
O Estado é hoje um ente fraco. O trabalho da Igreja, do sociólgo Betinho e de um sem número de pessoas aflitas com seus semelhantes será incapaz de reverter a miserável situação de nossos irmãos.
Creio que minha geração tem parte da culpa. Quem, durante os anos 70, quis entrar para a política? Não era um lugar para pessoas de boa família. Hoje pagamos o preço da inércia.
O Estado foi assaltado e repartido por grupos que apenas procuram atender a seus interesses imediatos, divorciados da realidade nacional. As discussões sobre o plano econômico, o voto obrigatório e os salários dos deputados são exemplos deste divórcio.
A ausência de vetores éticos e de pressão da sociedade permitiram o surgimento do atual descalabro administrativo e legiferante. O que se espera deste Congresso revisor é que dote o país de condições operacionais para que livremos os brasileiros deste destino perverso.
O país demonstrou, outras vezes, sua fantástica capacidade de recuperação, onde existia um mínimo de apoio e base. Ao restante da sociedade, através de seus grupos organizados e legítimos, restará fiscalizar e pressionar os governantes para que cumpram a pauta mínima de ações nas áreas acima indicadas. Isto sendo feito, a sociedade poderá dar ao país as regras éticas e morais que permitam ao indivíduo orgulhar-se de pertencer ao povo brasileiro.
Nós, o povo, devemos chamar e exigir que a revisão prossiga e chegue a bom termo.
Não é mais possível esperar por acordos de bastidores ou ligados a problemas de eleição! Vamos repassar em nossa mente as cenas do sequestro do Ceará para que elas sejam o início da mudança e para que mostremos aos nossos filhos que não ficamos inertes frente a esse horror. Se assim não o fizermos, seremos justamente condenados pelo futuro, e a justiça será retratada pela faca no pescoço de dom Aloisio.

CARLOS EDUARDO MONTE ALEGRE TORO, 42 advogado, é professor da PUC-SP, vice-presidente da Colgate-Palmolive e membro do Grupo das Empresas Brasileiras de Capital Estrangeiro.

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