São Paulo, segunda-feira, 4 de abril de 1994
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Sanção para os maus hábitos dos árbitros

Despreparo desfila pelos campos
NANDO REIS
MARCELO FROMER

NANDO REIS; MARCELO FROMER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não é de hoje que a Fifa vem apresentando novas alternativas para a melhoria do futebol. O fato de não se poder mais atrasar a bola com os pés para os goleiros foi uma excelente medida, que, além de coibir mais uma forma de cera, tornou os goleiros mais ativos e participantes do jogo. A questão do impedimento, que eliminou a mesma linha para a caracterização do "fora de jogo", já foi um avanço, mas talvez mereça outros ajustes.
Mas é quando chegamos próximos do quesito violência que ainda soçobramos sem saber realmente por onde começar. E, antes que se tomem medidas mais escalafobéticas como essa de punir com falta sem barreira o time que cometer mais de dez faltas, ou um cartão azul para que o jogador infrator fique dez minutos ausente da peleja, antes que o futebol se torne uma paródia do basquete, é preciso que consigamos melhorar o índice de aplicação das regras já existentes. Sim, porque apesar de seculares, as regras do bom esporte bretão ainda estão longe de serem velhas conhecidas dos nossos árbitros. Do jeito que a coisa anda, nos próximos sábados de Aleluia ainda vamos encontrar pendurados lado a lado com um Judas, um Mocelin, um Marsiglia...
O que está acontecendo no Brasil é um grande desfile de árbitros despreparados, permitindo todos os tipos de infrações, desrespeitando todos os capítulos do livro das regras. Só nos últimos 15 dias pudemos assistir atônitos a algumas passagens lamentáveis. Já no amistoso pouco amistoso entre Brasil e Argentina, foi destacado um mediador local que permitiu lances que mais condiziam um full contact do que com soccer, sem que houvesse qualquer expulsão.
No fim-de-semana retrasado, duas pequenas inversões deram mais uma vez o alarme de um dos piores hábitos dos juízes: a ultrajante lei da compensação. No jogo São Paulo e Ferroviária dois pênaltis escandalosos não foram marcados enquanto que no jogo Palmeiras e Ponte dois pênaltis inexistentes foram apontados.
É totalmente admissível que um juiz se engane, seja pelo seu posicionamento incorreto ou por um erros de interpretação. O que não se pode aceitar é que os homens de preto, julgando-se divindades helenísticas, resolvam moldar o resultado compensando o prejuízo causado por um erro seu, errando novamente, omitindo-se ou inventando faltas inexistentes.
E aí chegamos num outro ponto delicado. A impunidade dos árbitros. Não há de fato nenhuma sanção real que puna, com o mesmo rigor com que são punidos os jogadores, os árbitos malpreparados e mal-intencionados. Outro fato recente: Branco, no jogo Vasco e Fluminense, foi atingido por uma cusparada cavalar em pleno rosto na frente do juiz, mas o agressor foi apenas admoestado com o cartão amarelo.
E há uma série de erros que vêm sendo cometidos repetidamente, muitas vezes porque os juízes têm consciência de seus erros, mas não têm autoridade para sustentar seus equívocos. Esperamos que esse seja mais um fenômeno nativo, e que, na Copa, juízes bem instruídos, possam, apenas aplicando as leis já existentes com rigor e eficiência, contribuir para a preservação dos atletas em campo e da imagem do futebol fora dele.
As regras são bem claras. Basta apenas cumpri-las.

Como teimoso só faltam 74 dias para começarmos a perder uma Copa.

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