São Paulo, segunda-feira, 4 de abril de 1994
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Videogames reacendem polêmica de violência

MARIJÔ ZILVETI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Cinco teens desaparecem nos arredores de um lago. A polícia acredita que eles foram vistos pela última vez na mansão do casal Martin, já que eram seus convidados para um fim-de-semana.
Essa cena pode ser tão banal e pertencer a qualquer roteiro de filme norte-americano, que passa em horário nobre na TV.
Na verdade trata-se do mote do jogo "Night Trap", disponível no Brasil para Sega-CD. Em vez de desenhos, atores profissionais fazem parte das cenas. Todo cuidado é pouco, uma vez que alguns habitantes da casa fazem as vezes de vampiros.
Outro título em questão é "Mortal Kombat". Quando esse game de luta foi lançado para fliperama, cenas de sangue predominavam. Para videogame, o jogo ganhou uma versão mais light. A Sega optou por prudência. Manteve os cenários, que porém só podem ser acionados com um código especial.
A Nintendo foi mais pudica. Decidiu suprimir qualquer ato que implicasse violência explícita, como um lutador arrancando o coração do outro.
A velha discussão que vem à tona é se videogames devem conter ou não cenas de violência. E se esse tipo de jogo seria responsável pela onda de violência.
Essa controvérsia começou em 89 nos jogos de luta em máquinas de fliperama. A polêmica estabeleceu-se quando o Congresso norte-americano começou a criticar títulos como "Mortal Kombat" e "Night Trap", que conteriam cenas de violência.
Alegou-se que o último título traria uma cena de estupro. Segundo especialistas, é bem provável que o Congresso tenha uma versão diferente do jogo, uma vez que a Sega afirma que nenhum dos personagens do jogo é vítima de violência sexual.
No Brasil, o código secreto para ter acesso a lutas sangrentas é uma das dicas mais solicitadas nas cartas de leitores para a revista "Videogame". Mesmo que a versão Nintendo seja desprovida de cenas fortes, a garotada insiste em pedir o "password".
Na opinião de Mario Fitippaldi, editor da "Videogame", não adianta tirar cenas de violência de um jogo. "O tema dos games é o resultado de uma demanda social." Se são violentos, refletem essa sociedade, completa.
Quem joga parece estar meio alheio a essa discussão. Quer mais é continuar na frente da tela, combatendo um lutador ou ajudando a polícia a descobrir um intrincado caso de desaparecimento de adolescentes.
Leandro Câmara, 12, é adepto de jogos de violência. Prefere "Street Fighter" para Super Nes, mas não descarta uma partida com "Mortal Kombat".
Seu pai, Mário Câmara, diz que a polêmica não tem razão de ser. "Muitos programas de TV apresentam mais violência do que qualquer jogo."

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