São Paulo, terça-feira, 5 de abril de 1994
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Diversificação atrai agroindústrias na BA

DO ENVIADO ESPECIAL A BARREIRAS

Nem só de soja e milho vive Barreiras. Seu potencial para irrigação, que chega a 90 mil hectares, está despertando nos agricultores o interesse por culturas como tomate, laranja, limão, mamão, melancia, abacaxi e maracujá.
Por enquanto, a maior parte da área de 40 mil ha, irrigada por 400 pivôs centrais, é cultivada com milho e feijão, mas novos produtos começam a ser introduzidos.
"O caminho para consolidar a área é a agroindústria. Em vez de levarmos daqui grãos e farelo, transportaremos produtos de maior valor agregado, como frango, suínos, sucos e polpa de tomate", diz o agrônomo Cassiano Ricardo Niero, 32, que dá assistência técnica a vários fazendeiros da região.
Ele é responsável pela implantação do tomate irrigado em 950 ha da Rieger Agropecuária. A empresa investiu cerca de US$ 5 milhões numa indústria de processamento de tomate.
A unidade tem capacidade para produzir 50 mil toneladas de polpa por ano. Toda a produção está sendo vendida a grandes fábricas de molho de tomate de São Paulo.
Niero acrescenta que este foi apenas o primeiro passo na implantação de um núcleo produtivo de tomate e outros produtos como a cebola, no sudoeste da Bahia.
"Os produtores aos poucos estão formando parcerias para aumentar a oferta, o que deve atrair novas indústrias", diz Niero.
Outro exemplo de que a monocultura da soja faz parte do passado é a fazenda Agronol, do carioca Humberto Santa Cruz, 43, que irrigou 3.000 ha para plantar mamão, melancia, abacaxi, maracujá, algodão, feijão, algodão e milho.
Segundo ele, a fruticultura criará, em cinco anos, 150 mil empregos diretos na região, sem contar aqueles que serão proporcionados pela indústria.
"Infelizmente não existe uma forma de financiamento adequado para incentivar a fruticultura. Com a atual política de crédito, o governo federal está inviabilizando o setor", diz Santa Cruz, que também preside a Associação dos Irrigantes do Oeste da Bahia (Aiba).
No momento, os produtores têm de pagar juros de 23% ao ano mais correção monetária sobre 40% dos recursos obtidos junto ao Banco do Brasil.
Enquanto isto, os juros são de 12% ao ano para soja e milho, além da correção para o total do empréstimo.
A falta de pesquisa independente é outro fator que está emperrando o surgimento de novas técnicas de manejo dos solos, variedades de sementes e controle de pragas.
"Hoje a pesquisa que temos aqui é feita por empresas que comercializam sementes ou agrotóxicos, o que pode ser perigoso em função de interesses comerciais", afirma José Joaquim Santana e Silva, 40, presidente da Associação dos Engenheiros de Barreiras.
A entidade cita como exemplo de má orientação aos agricultores, a aplicação de venenos contra a "mosca branca", praga que se hospeda na soja e destrói o feijão.
"Esta praga só é eliminada com a retirada da hospedeira, bastando apenas esperar o final da colheita de soja para plantar o feijão", diz o engenheiro agrônomo.
A Folha apurou que as lavouras onde era realizada a aplicação de agrotóxico recebiam assistência dos mesmos agrônomos que vendiam o produto.
Para solucionar as dificuldades causadas pela falta de pesquisas confiáveis, Santana está articulando a criação de uma fundação, que seria sustentada por 0,3% (US$ 400 mil/ano) da receita dos produtores e conveniada à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, entidade vinculada ao Ministério da Agricultura.

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