São Paulo, terça-feira, 5 de abril de 1994
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Lula afirma que gestão FHC 'piorou' o país

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT decidiu aproveitar a adesão de empresários e partidos conservadores a Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para caracterizar uma eventual disputa entre o tucano e Luiz Inácio Lula da Silva como a reeedição do embate entre "as elites" e o "bloco popular".
"A direita tem um candidato, que é Fernando Henrique. Tanto o Fernando quer um vice de direita quanto a direita quer adotá-lo", afirmou Lula. Na tentativa de caracterizar a disputa eleitoral com o PSDB como de natureza ideológica, Lula fez um apelo para que o ex-governador Leonel Brizola (PDT) se integre ao "bloco democrático-popular".
Para Lula, não é possível ainda vislumbrar quem será seu adversário no segundo turno da eleição. Argumentou com a força da máquina do PMDB para não excluir Orestes Quércia do páreo. Mas atacou basicamente FHC.
"De concreto, o Fernando pegou o país com uma inflação de 29,7% e entregou o ministério com a taxa de 45%. O salário-mínimo, quando ele assumiu, era de US$ 83 e agora ficou em US$ 64", disse.
O virtual candidato petista insistiu, quando perguntado se o eventual sucesso do plano econômico poderia alavancar a candidatura FHC, que os únicos dados concretos até agora são os que apontam a queda da qualidade de vida da população durante a gestão de FHC no Ministério da Fazenda.
Lula argumentou que, assim como ocorreu no Plano Cruzado na eleição de 86, o plano de FHC deve ter utilização eleitoral. Lembrou que vários membros da equipe que elaborou o plano atual também trabalharam no governo federal durante o Cruzado. "O Quércia não foi o único beneficiado pelo estelionato eleitoral", provocou. FHC foi eleito em 86 pelo PMDB.
Apesar de não ter esperança de conquistar o apoio de Brizola, Lula insistiu também que PT e PDT pertencem ao mesmo campo político. "Respeito o Brizola e não vejo nas bases do PDT restrições a mim. Acho que ele tem que ser realista para ver quem no nosso campo tem condições de ganhar a eleição', disse Lula.
O raciocínio da cúpula petista é que o palanque conservador que está sendo erguido para FHC tende a empurrar a base pedetista para Lula, caso Brizola não consiga ampliar sua aceitação nas pesquisas. Daí a necessidade de abrir desde já o diálogo com Brizola.
Gilberto Carvalho, secretário-geral do PT, disse que a reivindicada abertura de negociações com o PDT tenta liquidar a eleição já no primeiro turno. "Temos identidade histórica com o PDT e precisamos enfrentar o pacto das eleites em torno de FHC", disse Carvalho.
O dirigente petista afirmou também que o PT teme que a eventual candidatura do senador Esperidião Amin (PPR-SC) à Presidência da República sirva como linha auxiliar de FHC durante a campanha. "O PSDB vai precisar de alguém para fazer o jogo sujo", acha.
Lula vai hoje a Brasília para discutir com PSB, PC do B, PPS e PV o nome de seu vice. Apesar de não declarar publicamente, Lula quer que seja o senador José Paulo Bisol (PSB-RS).

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