São Paulo, terça-feira, 5 de abril de 1994
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Rede Quércia

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Começou com a Manchete, cedendo tempo aos domingos. Depois foi a Bandeirantes, num sábado. Agora é o SBT, fazendo o lançamento da candidatura Orestes Quércia. Não é só a Globo, afinal. Mais cedo ou mais tarde, as maiores redes brasileiras vão se deixando tomar pela campanha presidencial. Ontem o veículo eleitoral foi o Debate na TV.
Foi um programa especial, na definição do âncora Paulo Lopes. Especial, reunindo os prováveis aliados Getúlio Hanashiro e Luiz Antônio de Medeiros para levantar a bola para o candidato a candidato Orestes Quércia, do PMDB. Quércia falou tudo o que queria, sem o menor questionamento. Partiram do próprio âncora os elogios mais empolgados.
Quércia falou: "Sofri uma campanha como ninguém nunca sofreu. Devassaram a minha vida e comprovaram a lisura." Ou ainda: "Eu não tenho dossiê de ninguém. O povo gosta de campanha limpa e é isso o que nós temos que oferecer." Ou ainda: "Eu sou favorável à privatização. Privatizei a Vasp. Não houve escândalo. Tentaram fazer intriga de que houve, mas não houve nada."
Ele falou, falou, sem ninguém reagir. Pelo contrário, Paulo Lopes entrava aqui e ali, procurando ajudar: "O senhor saiu do governo estadual com uma aprovação muito grande. E de repente baixou essa campanha contra o senhor."
Quércia seguia adiante: "Lula nunca dirigiu nem carrinho de pipoca. O PT é um partido fascista, que decide pela base." Mais: "Tudo quanto é banqueiro está satisfeitíssimo com o plano do Fernando Henrique. Ele é o candidato dos ricos, da elite." Para Maluf, elogios: "Está fazendo uma administração competente." Para Brizola, elogios: "É um homem de uma história neste país."
Nenhuma pergunta sobre a súbita boa vontade com velhos inimigos: o âncora só queria o bem para Quércia. Até as pesquisas foram justificadas por Paulo Lopes: "O senhor não estava na mídia. O senhor sempre começa por baixo."
Orestes Quércia, diante de tamanha gentileza, acabou se empolgando e entregou o jogo. "Agora que eu vou ter acesso à televisão, eu vou conversar com o povo." Sem dúvida, no que depender dos "programas especiais" do SBT e da Bandeirantes ou da programação regular da Manchete, ele deve ter todo o "acesso" que quiser. E com toda a liberdade, como no horário que é gratuito.

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