São Paulo, terça-feira, 5 de abril de 1994
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Estrangeiros tiram US$ 1 bi do Brasil

DA REPORTAGEM LOCAL

A elevação do juro americano desencadeou desvalorizações em série no preço das ações e outros papéis de países latino-americanos negociados no mercado internacional. Para se ter uma idéia do peso desta decisão do Banco Central dos Estados Unidos, saíram do Brasil, desde a semana passada, cerca de US$ 1 bilhão.
É dinheiro que estava aplicado por investidores internacionais no mercado de ações brasileiro. Está tomando o caminho de volta para pagar o prejuízo sofrido por eles pela alta dos juros americanos.
No trimestre, a Bolsa brasileira valorizou 44% em dólar, segundo o ING Bank. Vende-se ações do Brasil, ainda com lucro, para cobrir o prejuízo lá fora.
O juro americano vinha caindo há cinco anos. Com a inversão da tendência, os investidores perderam dinheiro em vários segmentos do mercado de capitais internacional. Estão neste contexto os papéis brasileiros.
Por causa da diferença do prêmio oferecido pelos papéis de países emergentes como o Brasil e o juro americano, especuladores começaram a pegar dinheiro dos bancos para comprar os títulos.
A diferença entre o preço pago pelo empréstimo e o retorno do papel adquirido chegou a 8% ao ano. Em fevereiro, porém, o BC americano decidiu aumentar o preço do dinheiro por causa do aumento da atividade econômica.
Houve, com isso, redução da diferença entre o custo do empréstimo no banco e o prêmio pago pelo papel. O principal título brasileiro vendido no exterior é o eurobônus, nota com prazo entre três e cinco anos que bancos e empresas vendem aos investidores.
A subida dos juros fez com que os investidores perdessem interesse. A diferença entre o juro do empréstimo e o prêmio do título caiu e está hoje em cerca de 4%.
Ainda seria um belo diferencial, não fosse a expectativa de que o juro americano vai continuar subindo, reduzindo esse lucro. Em 1988, lembram os operadores dos bancos internacionais, o BC americano passou meses elevando os juros de 0,25% em 0,25%.
"O estilo do BC americano é muito gradualista", explica Thanatos Volpon, diretor do Banco de Boston. "Nessa confusão toda, há um forte componente de expectativa de que o juro vai continuar subindo."
Outro mercado atingido por essa reação dos juros americanos é o da dívida externa brasileira. Representam duplicatas do Brasil ainda a vencer. O juro subiu e ficou mais caro para comprar esse título.
O mais famoso deles, batizado de IDU, era negociado a US$ 86 e caiu para US$ 67. "O dinheiro saiu dos EUA e veio para os títulos de outros países por causa do juro interno muito baixo", afirma José Berenger, diretor financeiro do ING Bank. "Agora está voltando às origens."

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