São Paulo, terça-feira, 5 de abril de 1994
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O São Paulo é o exemplo a ser seguido

IVES GANDRA MARTINS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Brasil não se destaca por ser um país organizado. Dele temos uma imagem que fica próxima da desordem. O Estado brasileiro, para começar dos poderes constituídos, é uma obra-prima de desorganização. Basta citar o caso da compra, pelo Dnocs (Departamento Nacional de Obras contra a Seca), de um navio quebra-gelos, cuja utilidade num território tropical ainda está por ser descoberta.
Existem, todavia, instituições que realmente funcionam. Existem áreas, em que, ao contrário de desordem, a qualidade, a organização e a eficiência são as regras. As empresas nacionais que exportam, por exemplo, competem em igualdade de condições com suas similares internacionais. Greves à parte, ao se pensar no Metrô, o que nos ocorre é a idéia de eficiência. E seria possível citar inúmeros casos.
Sou conselheiro vitalício de um clube que se enquadra entre essas exceções positivas. Posso dizer, sem medo de errar, que, no São Paulo Futebol Clube, as coisas realmente andam nos trilhos. Como disse o amigo Mario Amato, em artigo recente, no Morumbi, cada um desempenha seu papel. O presidente preside, os diretores dirigem, o técnico treina e os jogadores jogam. Como todos fazem bem sua parte, o resultado é excelente.
Acresce-se que o São Paulo é também um clube bastante criativo, muito inovador e consideravelmente ousado. A atual administração, com José Eduardo Pimenta e Luís Cássio dos Santos Werneck nas presidências de seus organismos máximos, talvez tenha sido a primeira a perceber o potencial de um clube onde o futebol desempenha papel fundamental. E está aproveitando tal potencial da melhor maneira possível.
A primeira idéia-chave é a de que o futebol profissional deve ser realmente profissional. Para tanto, é preciso ofertar aos jogadores boas condições de trabalho. Assim como uma secretária só pode ser eficiente se tiver ao seu alcance adequada infra-estrutura, o jogador só pode render tudo o que sabe se o clube possuir aparelhagem moderna. Foi o São Paulo o primeiro clube a construir um Centro de Treinamento, com bons campos, material próprio, salas de musculação etc., como também foi o primeiro a informatizar a preparação física de seus atletas. As fantásticas conquistas –num só ano, os quatro maiores títulos internacionais que um time pode conquistar– foram mera decorrência deste trabalho de base.
No plano interno, a atual administração do clube fez um trabalho insuscetível de críticas. Em quatro anos de gestão, sua diretoria e seu Conselho Deliberativo tomaram iniciativas que melhoraram significativamente a entidade.
Além do futebol, o São Paulo se preocupa também com o clube propriamente dito. Nesse sentido, Pimenta e Werneck inovaram. Viabilizaram a construção de uma sede social no Morumbi, através de uma operação de "underwriting" de US$ 12 milhões. Um consórcio de bancos, liderado pelo Bradesco e pelo Atlantis, vai investir essa quantia, em troca de 10.000 títulos sociais, que só serão vendidos quando as obras estiveram concluídas.
O associado do São Paulo sairá ganhando com tal sensível expansão. Seu título ficará mais valorizado com as melhorias. Além disso, ele terá, individualmente, quando a sede ficar pronta, mais espaço no interior do clube do que tem hoje, em termos de área construída. Isso ocorrerá mesmo com a incorporação dos novos sócios.
Essas são apenas algumas facetas de um clube moderno, dinâmico e inovador, que defendeu com êxito as cores do Brasil nos campos do mundo e trouxe para nossa terra títulos que orgulham até os torcedores dos time rivais.
Ives Granda da Silva Martins é advogado tributarista e professor emérito da Universidade Mackenzie.

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