São Paulo, terça-feira, 5 de abril de 1994
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Disco traz história repetida como farsa

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

É um peixe? É um avião? É a volta do (Led) Zeppelin? Não, é o último disco do Pink Floyd.
Mais pesado do que o ar, lento, um peixe laranja gigante sobrevoou os céus de Londres para marcar o lançamento de "The Division Bell", o primeiro disco de estúdio da banda desde "A Momentary Lapse of Reason" (1987).
Pena que David Gilmour (vocal e guitarra), Nick Mason (bateria) e Richard Wright (teclados) não tenham ouvido Roger Waters, que deixou a banda em 1985 e travou uma guerra com seus ex-companheiros para que eles não manchassem o nome do Pink Floyd. Como disse o velho Marx, a história se repete como farsa.
"Divison Bell" é um arremedo de marcas registradas do grande Floyd dos anos 60 e 70, com temas de melancolia, loucura e alienação.
A parte musical está cheia da psicodelia ambiente, com sinos, barulhos de vozes eletrônicas e coisas se quebrando, corinhos de fundo, solos rasgantes de guitarra, bateria com levada de marcha militar. Chamaram até o saxofonista Dick Parry, que não tocava com a banda desde 1975, para dar uma força.
Para quem conhece os grandes discos da banda, como "The Dark Side of The Moon" (72) e "The Wall" (79), "Divison Bell", como havia ocorrido com "Momentary Lapse of Reason", soa como um grande pastiche, um simulacro para engordar ainda mais as contas bancárias dos milionários floyds.
A melhor faixa do disco é a de abertura, a instrumental "Cluster One". Depois de ruídos que podem ser bandeiras ao vento, chuva ou óleo na frigideira, a guitarra de Gilmour sai expressando sua melancolia sob uma base pastel de teclado e pratos de bateria.
Cai super-bem para ambientar bares ou salas de dentistas moderninhos. Depois entra "What Do You Want From Me". Gilmour perguntando "o que vocês querem de mim?"
Parece mesmo que há um semancol em relação aos caminhos do Pink Floyd. A faixa três, a melancólica "Poles Apart", refere-se a um "garoto dourado" que foi embora. Seria Waters, ou até mesmo o despirocado Syd Barret, que deu o nome à banda e a abandonou (ou foi expulso) em 68, tomado pelo LSD.
Com mais de 140 milhões de discos vendidos desde 1965 (só "Dark Side" vendeu 28 milhões), o Pink Floyd deve amealhar mais algumas cifras monstruosas com "The Divison Bell".
A turnê já está quebrando recordes de vendas antecipadas nos EUA (onde estreou este mês) e na Europa. Entre os efeitos especiais estão a exibição de sete filmes simultaneamente atrás do palco e, um velho sonho da banda, ter um teto artificial de luz. Talvez a platéia não perceba que o teto deste Pink Floyd é mesmo de vidro.

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