São Paulo, terça-feira, 5 de abril de 1994
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A morte não espera

O caos periodicamente explode no sistema de saúde pública do país. Torna-se evidente no fechamento de vagas e de hospitais por falta de pagamentos do governo. Se não explode, se arrasta em epidemias primitivas como a do cólera. A falta de definição de políticas –como a de implantação do Sistema Unificado de Saúde– certamente retarda a racionalização do atendimento.
Enquanto isso não se resolve, os doentes continuam a precisar de médicos e hospitais equipados. E para tanto são necessárias soluções que dêem conta do cotidiano.
Nesse sentido, deve-se receber pelo menos com esperança a iniciativa da Prefeitura de São Paulo de tentar melhorar a administração de um de seus hospitais entregando-a à Associção Paulista de Medicina (APM). O governo continua a pagar a manutenção da instituição e salários, mas o serviço administrativo prestado pela APM será gratuito.
A experiência, ainda que muito incipiente para ser analisada, aponta caminhos para a parceria do Estado e da iniciativa privada. Se vier a se mostrar eficiente, a gestão da APM pode inspirar projetos de terceirização dos serviços de saúde.
O Estado entraria com a infra-estrutura, entregando a gestão dos hospitais a empresas, que poderiam até mesmo ser formadas pelos profissionais da instituição.
O projeto pode vir a reparar problemas como os ocorridos no último fim-de-semana, quando hospitais de São Paulo ficaram sem médicos devido à falta de plantonistas –uma falha de fiscalização da prefeitura e uma atitude intolerável de alguns profissionais.
Um médico que assumiu o compromisso público de trabalhar na rede oficial tem, obviamente, o dever de estar a postos para atender a população que paga o seu salário, ainda que baixo. Não se trata apenas da ética médica, hipocrática –a de sempre prestar socorro. Através do poder público, os cidadãos firmaram com estes profissionais um contrato de serviço.
Doenças e acidentes ignoram a letargia e ineficiência da burocracia estatal. A morte não espera.

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