São Paulo, quarta-feira, 6 de abril de 1994
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Bolsa brasileira sofre com globalização do mercado

DA REPORTAGEM LOCAL

A abertura do mercado de ações para o investimento do capital externo tornou o jogo mais pesado e mostrou que os investidores brasileiros ainda não conhecem direito as suas regras. Responsáveis por cerca de 20% do movimento financeiro médio de US$ 250 milhões por dia na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), a maior do país, os estrangeiros ditam o rumo das cotações de acordo com dados antes irrelevantes para os locais, como a taxa de juros americana.
Esta falta de preparo é admitida como uma das causas da queda exagerada de mais de 10% no preço das ações, anteontem. "Ficou do episódio a lição de que o Brasil é hoje um mercado globalizado", analisa Álvaro Augusto Vidigal, presidente da Bovespa. "Antigamente, estávamos isolados. Agora é que começamos nosso aprendizado."
Os administradores profissionais de fundos de investimento em ações, aqueles que coletam depósitos de pessoas físicas, em pequenas quantias, alertam que esta aplicação tem perfil de longo prazo.
Segundo Juscelino Florido, do Banco Real de Investimento, não há motivo para sair correndo do fundo. Ao contrário, para Samuel Levy, diretor do Citibank, a queda abriu oportunidades de negócios. "Quando o mercado cai de modo emocional, é um bom momento de compra."
Vidigal aconselha aos investidores profissionais, que mexem com grandes volumes de dinheiro, a começar a levar em conta vários dados internacionais, como os juros e o ritmo da atividade econômica dos países desenvolvidos.
"É preciso ter uma cabeça mais aberta", afirma ele. As próprias empresas com ações negociadas na Bolsa não está devidamente preparadas. Vidigal afirma que das 550 companhias listadas no pregão, apenas 200 possuem vocação para o jogo do mercado.
São aquelas administradas profissionalmente e aceitam as regras de prestação de contas de suas contas com os investidores. O própio Índice Bovespa (formado pelas 50 ações que repondem por 80% do movimento do pregão) é um retrato dessa concentração em poucos papéis.
"O estrangeiro acaba sendo atraído pelas empresas mais profissionais o que concentra o Índice", afirma Vidigal.
"O mundo está interligado", afirma Eduardo da Rocha Azevedo, da Corretora Convenção. "O investidor nacional não tem tradição. Há, hoje, uma série de instituições que montaram carteiras de ações, mas esse pessoal ainda não sabe operar e se apavora com qualquer coisa. Provoca essa correria."
Anteontem, o movimento de queda contaminou as maiores Bolsas da América Latina. Só que o Brasil teve a maior desvalorização: -10,6% contra -8,5% na Argentina e -6% no México. "Isso não está certo, pois o Brasil é muito melhor", acrescenta Vidigal.
O saldo da entrada líquida de capital externo nas Bolsas brasileiras é de US$ 1,550 bilhão nos dois primeiros meses do ano. Poucos se arriscam a uma estimativa sobre março.
O Chase Manhattan, maior administrador de capital estrangeiro na Bolsa, registrou ingresso líquido positivo de US$ 52 milhões em março, segundo Julius Buchenrode, diretor de investimento.
"Meu cliente só trabalha no longo prazo e por isso se comporta diferente", afirma. "A turma que busca o lucro rápido, porém, ficou apavorada, principalmente brasileiros com dinheiro no exterior e ficam entrando e saindo do mercado de ações."

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