São Paulo, quarta-feira, 6 de abril de 1994
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Sarney e os pais-de-santo

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Há um detalhe curiosíssimo por trás da candidatura José Sarney, abençoada, agora, pelo Palácio do Planalto –aliás, um detalhe que costuma povoar a política brasileira. Sua decisão de disputar as eleições, enfrentando Orestes Quércia no PMDB, está baseada, em primeiro lugar, nas pesquisas de opinião. Mas também em previsões de pais-de-santo.
Não há registro de alguém que tenha passado pela Presidência do Brasil tão místico como Sarney. Durante seu mandato, periodicamente faziam-se orações, em Brasília, no apartamento 104, SQS 309, Bloco B, para afastar os maus espíritos.
Ele, por exemplo, não usa roupa marrom e tem pavor a bicho empalhado, supostamente fontes de azar. Sempre sai pela mesma porta que entra –isso para "não se perder" do anjo da guarda.
Em 1985, fiz uma incursão por terreiros na periferia de São Luís, nos quais ele era apresentado como fiel devoto. Aliás, no exato dia em que fiz a visita, um pai-de-santo relatou sobre um despacho preventivo para protegê-lo. Motivo: um inimigo teria preparado "trabalho" para prejudicá-lo. A cidade de Codó, no Maranhão, é anunciada como o maior centro de magia negra do Brasil.
Um dos maiores amigos de Sarney, Moacir Neves, já falecido, orgulhava-se de ter-lhe comunicado com antecedência seu destino presidencial. Depois, dizia que ele seria tão popular como JK e voltaria ao Palácio do Planalto, desta vez nos "braços do povo".
No ano passado, os pais-de-santo voltaram a anunciar em entrevista à imprensa, no Maranhão, que os "guias" abriam caminho a Sarney voltar ao Palácio do Planalto.
Some-se a isso: Quércia não vai bem nas pesquisas e Antônio Britto e Luiz Antonio Fleury Filho saíram do páreo. E, por incrível que pareça, tem-se um candidato.
PS – Depois de sua gestão com tantos erros, José Sarney precisa mesmo de uma, digamos, ajuda extra para voltar ao Palácio do Planalto. Aliás, depois que ele virou presidente, deixou a cadeira para Fernando Collor que, por sua vez, passou o bastão a Itamar Franco, substituído na interinidade por Inocêncio de Oliveira, já não duvido de mais nada.

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