São Paulo, quinta-feira, 7 de abril de 1994
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Refilmagens e continuações invadem as telas

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

A segunda versão de "O Processo" já chegou. A americanização de "As Coisas da Vida" deve entrar em cartaz na próxima semana (agora se intitula "Intersection" e tem Richard Gere e Sharon Stone nos papéis que há 25 anos foram de Michel Piccoli e Romy Schneider).
Em breve teremos por aqui a refilmagem de um "thriller" de Sam Peckinpah, "Os Implacáveis" (The Getaway), que já não era bom no original (com Steve McQueen e Ali MacGraw).
Há dias estreou nos EUA "The Paper", de Ron Howard, com Michael Keaton, Glenn Close e Marisa Tomei metidos em peripécias parecidas com as de "Jejum de Amor" (His Girl Friday).
Nostalgia? Falta de idéias? Homenagem ao bicentenário de morte de Lavoisier?
Tudo isso e o cifrão também.
Basta contar quantos milhões o "déja vu" rendeu nos últimos tempos. O já visto em filmes antigos e em sucessos recentes.
Batman, a família Addams, a Pantera Cor-de-Rosa e aquela freira biruta de Whoopi Goldberg –todos arrecadaram no bis muito mais que o previsto.
Quando uma continuação alcança 60% do que o filme original faturou, seus produtores espocam champanhe e combinam logo outra sequela.
"Ninguém deveria se surpreender se neste ano e no próximo o mapa de produções dos grandes estúdios for tomado por filmes sobre dinossauros, advogados e outros bichos", gracejou o repórter John Brodie, do "Variety", ao tomar conhecimento de que Steven Spielberg já tem o esboço de "Parque dos Dinossauros - Parte 2" e vários dramas de tribunal pretendem explorar o filão de "Questão de Honra", "Filadélfia" e "Em Nome do Pai".
Quanto aos outros bichos, são bichos mesmo. Inspirado pela comoção causada pela baleia Willy, George Hill inventou uma foca chamada Andre, cujas gracinhas chegarão as telas antes do quarto ataque do gosmento monstro que todos acreditavam definitivamente destruído em "Aliens 3".
E antes também do próximo pesadelo no Planeta dos Macacos (encomendado pela Fox a ninguém menos que Oliver Stone) e da nova revoada dos apocalípticos pássaros de Hitchcock.
Isto mesmo: vem aí "The Birds 2: Land's End", dirigido por Rick Rosenthal, com a Tippi Hedren tomando conta de uma mercearia.
Zorro, Maverick (com Mel Gibson), o Agente da UNCLE, Charlie Chan (projeto de Wayne Wang), o Santo, Frankenstein (dirigido por Kenneth Branagh), Ricardo 3º (com Ian McKellen), o Homem-Aranha (recriado por James Cameron), o fossento professor de "Nunca Te Amei" (The Browning Version) –desta feita interpretado por Albert Finney– e o formidável duelo no Corral OK (em dois bangue-bangues, "Tombstone" e "Wyatt Earp", este com Kevin Costner) também farão sua "rentrée" na próxima temporada.
Se Joe Dante conseguir mais US$ 25 milhões, a "Múmia", um dos clássicos de Boris Karloff, tambem volta, jogando para as calendas as aventuras de "The Green Hornet", herói dos quadrinhos há tempos em sua agenda.
Frankenstein e a Múmia não são os únicos assombros exumados pelo êxito de "Drácula". Dr. Jekyll será de novo atormentado pelo seu alter ego, Mr. Hyde, numa superprodução estrelada por Robert De Niro e Julia Roberts.
E o sádico Master Sims outra vez semeará o pânico num hospício londrino, como Boris Karloff fez na primeira versão de "Asilo Sinistro" (Bedlam), jóia horrorífica de Val Lewton que Martin Scorsese resolveu refilmar, entregando a direção ao neozelandês Alison McLean, que encomendou o roteiro a outro cineasta independente, John Sayles.
O espectro de "The Ghost and Mrs. Muir", outra refilmagem em vista, nada tinha de horripilante quando entre nós foi exibido, há 46 anos, com o título de "O Fantasma Apaixonado", não se filiando, portanto, ao elenco acima relacionado.
Está saindo do limbo conjurado pelos eflúvios de outro fantasma romântico, o de "Ghost". Claro que pensaram em Patrick Swayze e Demi Moore, mas os dois tiraram o corpo fora.
Qualquer que seja a escolha final, dificilmente encontrarão uma dupla à altura da original, formada por Rex Harrison e Gene Tierney.
É provável que a síndrome de "Ghost" também esteja por trás do "remake" de uma peça de John Van Druten, "Bell, Book and Candle", que Richard Quine adaptou ao cinema em 1958, com James Stewart, Kim Novak e um gato siamês cujo olhar mágico fazia coisas do arco da velha.
Já o que está por trás de "The Kiss of Death" é apenas a obsessão de Barbet Schroeder por intrigas violentas ambientadas em Nova York.
Na versão original, assinada por Henry Hathaway, Richard Widmark encarnava um dos psicopatas mais ferozes do cinema, que nem velhinha em cadeira de rodas poupava.
Para superá-lo, Schroeder terá de criar um facínora perto do qual o Robert De Niro de "Cabo do Medo" parece São Francisco de Assis.

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