São Paulo, quinta-feira, 7 de abril de 1994 |
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Renuncia juiz que legalizou aborto nos EUA
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
A decisão abre ao presidente Bill Clinton sua segunda oportunidade de preencher uma das nove vagas da instância máxima da Justiça norte-americana. Ao contrário do ano passado, quando indicou Ruth Ginsburg para o lugar de Byron White, a escolha que Clinton vai anunciar nas próximas três semanas vai alterar pouco o equilíbrio ideológico da Corte. Blackmun, embora tenha sido apontado pelo ex-presidente Richard Nixon em 1970 como parte do esforço de dar à Corte um perfil conservador, revelou-se um liberal, em particular em temas referentes aos direitos da mulher. Dois nomes se destacavam ontem como favoritos para o lugar de Blackmun: o do atual líder do Partido Democrata (do governo) no Senado, George Mitchell, e o do atual secretário do Interior, Bruce Babbitt. Ambos são políticos profissionais. Se Clinton se inclinar pela tendência dominante nas últimas três décadas de escolher um jurista, os favoritos são os juízes Jose Cabranes e Stephen Bryer. Cabranes tem a vantagem de, se for apontado, se tornar o primeiro hispânico a chegar à Corte. Bryer era uma das primeiras opções de Clinton no ano passado para o lugar de White. O presidente disse que Blackmun foi "um juiz de majestade e razão, com sabedoria e graça", que "deixa a Corte para entrar na história". Blackmun afirmou ter resolvido se aposentar porque "Meu Deus, 85 já é muita idade e é melhor sair agora, quando ainda me sinto bem". Os indicados pelo presidente para a Suprema Corte precisam ser aprovados pela maioria do Senado. Seus cargos são vitalícios. Blackmun foi escolhido por Nixon para o lugar do juiz Abe Fortas, que renunciou sob ameaça de impeachment. Antes de chegar a seu nome, Nixon viu seus dois primeiros indicados para a posição serem rejeitados pelo Senado. Apesar de ter trabalhado em milhares de casos durante seus 24 anos de Corte, Blackmun ficou famoso como "o autor da decisão do aborto". Por causa dela, recebeu mais de 60 mil cartas de protesto, que ele chamava de "o correio do ódio". Abriu, leu e respondeu a todas elas pessoalmente. Muitas o chamavam de "açougueiro" e "nazista". Vários pastores de sua igreja, a Metodista, estiveram entre seus detratores. Um repórter perguntou ontem a Blackmun como ele vai sobreviver sem ler o "correio do ódio". O presidente Clinton se antecipou ao juiz e respondeu: "Ele se comprometeu a ler e responder parte da minha correspondência". Texto Anterior: Dissidência do PRI ataca novo candidato Próximo Texto: Decisão do Supremo quase foi revertida em 92 Índice |
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