São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Os custos sociais da inflação: uma reconsideração

MARIA HELENA AMBROSIO DIAS

Aproveitando o ensejo da discussão apresentada pelo professor Cysne neste jornal em 12/02/94, gostaria de apresentar alguns resultados, baseados em estudos científicos, sobre os custos sociais da inflação no Brasil (Dias, M.H.A. -1993- The Welfare Costs of Inflation and Seigniorage in Brazil: A Model with Leisure, apresentado no 21º Encontro Nacional de Economia, em Belo Horizonte (MG), em dezembro de 1993, tendo como debatedor o professor Cysne. A diferença aqui é que podemos medir quanto custa aos brasileiros conviver com o fenômeno da inflação em termos de perda real de consumo em nível de sociedade como um todo.
A metodologia utilizada pelo professor Cysne deve ser reconsiderada porque é a mesma uttilizada para medir os custos da inflação de uma economia com inflação moderada como a dos Estados Unidos em que a proporção entre o PIB e o M1 (papel-moeda em poder do público mais depósito à vista) difere substancialmente da proporção existente no Brasil.
Dados revelam que no Brasil o M1 representou uma média na última década de aproximadamente 9% do PIB; enquanto que nos Estados Unidos a média da última década ficou em torno de 15% do PIB norte-americano. Note ainda que, em abril de 1993 o M1 representou apenas 1,4% do PIB brasileiro, o que nos informa que os agentes econômicos brasileiros utilizam o mínimo possível de moeda. Eles o fazem através de mecanismos financeiros que proporcionam certa proteção contra a inflação (FAF, DER, dólar paralelo etc.).
Se desconsiderarmos as restrições de demanda causadas pelos vários planos econômicos governamentais, ttais dados também revelam que necessita-se uma quantidade menor de moeda em circulação para o funcionamento do mercado brasileiro em relação ao norte-americano.
Contudo, nossa pesquisa nos permite investigar quando deixamos de consumir por causa das perdas advindas da inflação. Este resultado está relacionado com a senhoriagem, receita que o governo tem quando imprime moeda.
Pois, quando o governo imprime moeda para pagar seus débitos com o setor privado, por exemplo, a quantidade de moeda em circulação no mercado aumenta, a demanda aumenta e, consequentemente, os preços aumentam gerando, na maioria dos casos, inflação. Assim a senhoriagem funciona como uma espécie de imposto que apresenta a feliz qualidade, para o governo, de não necessitar legislação alguma para que o mesmo entre em vigor. Basta pôr a máquina para funcionar.
Diante desta situação, os agentes econômicos adquirem perdas em seu poder de compra. Os custos que a inflação traz são muitos e entre eles estão: distorções no sistema de impostos, quando o mesmo não é indexado; incapacidade do sistema de aposentadorias e outros planos institucionais em adaptar-se ao declínio do poder de compra causado pela inflação; custos de se manter moeda em mãos para pequenas transações, além dos custos causados pela necessária pesquisa de mercado em procura do preço mais barato em vista das diferenças dos preços para a mesma mercadoria; custos nas empresas de remarcação dos preços.
Vamos aos fatos: usando o referencial para o PIB brasileiro de US$ 425 bilhões, para uma inflação mensal de 40%, a queda no consumo real da sociedade brasileira é de US$ 100 milhões ao ano. Em contrapartida, para o mesmo nível inflacionário, a receita do governo na impressão de moeda é de aproximadamente US$ 1,5 bilhões ao ano. Este é um indicador da ineficiência da máquina governamental. Pois, se esta receita fosse utilizada com eficiência, não implicaria perda do consumo global da sociedade montante de US$ 100 milhões. Tal receita aplicada de forma produtiva deveria ser revertida à sociedade na forma de bens e serviços prestados pelo governo.
Atenção também deve ser dada ao fato de que tais custos incidem em maior proporção sobre aquela faixa de agentes econômicos que não tem acesso aos mecanismos financeiros que auxiliam contra a inflação. Esta faixa compõe-se de sua maioria da população de baixa renda no Brasil.

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