São Paulo, sexta-feira, 8 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O São Paulo de hoje é obra da torcida

ANTONIO MARIZ DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há poucos dias, o meu amigo Ives Gandra da Silva Martins escreveu para esse conceituado jornal um artigo tecendo rasgados elogios aos presidentes do Conselho Deliberativo e da diretoria do São Paulo. Não conhecesse eu o subscritor da matéria, homem honrado e são-paulino da melhor cepa, poderia pensar tratar-se de uma encomenda laudatória aos dois dirigentes, nas vésperas de uma eleição.
Com certeza não foi esse o móvel do escrito. Desejou trazer a público o que lhe parece ser obra exclusiva dos atuais dirigentes. No entanto, nem sequer dividiu as glórias com os 240 conselheiros, os 17 diretores por eles escolhidos e os 25 membros do Conselho Consultivo. Concentrou seus aplausos nos dois presidentes. Olvidou os demais dirigentes e não fez qualquer menção aos sócios e aos torcedores, que constituem, eles sim, a alma do clube. Torcedores e sócios que são a razão mesma de sua existência.
Aos olhos do eminente são-paulino, as nossas grandes façanhas administrativas e esportivas devem ser creditadas aos citados dirigentes. Grande engano, que não faz justiça a uma plêiade de abnegados e valorosos torcedores do clube, que conduziram os destinos da agremiação nas várias épocas de sua gloriosa existência. Os que o fundaram em 1930; aqueles que em 1935 proporcionaram o seu renascimento; os que foram responsáveis pelas inesquecíveis vitórias da década de 1940; os que em 50 souberam conciliar as obras do Morumbi, com a formação de uma grande equipe; os que nos anos 60 nos deram a grande emoção da inauguração do maior estádio particular do mundo; os que nos anos 70 conquistaram vários campeonatos e nos últimos 14 anos colocaram nosso futebol como um dos maiores do mundo.
Diante dessa retrospectiva, causa algum espanto a afirmação contida no aludido artigo de que a atual administração "talvez tenha sido a primeira a perceber o potencial de um clube onde o futebol desempenha papel fundamental".
O entusiasmo posto no artigo não contagia os 780 sócios que integram as seis chapas de oposição. Número inusitado de facções oposicionistas a concorrer em uma única eleição. Com os votos que tais chapas receberão, veremos que não é desprezível o rol de descontentes com esta administração. Claro que nos ufanamos com os títulos recém-conquistados. O crédito, porém, é múltiplo. Ele é dos jogadores, da comissão técnica capitaneada por Telê Santana, dos torcedores, dos sócios e, por fim, dos diretores e dos conselheiros.
Os êxitos no futebol não encobrem as deficiências da gestão financeira, que, recentemente, provocou pela primeira vez na história do clube atraso no pagamento do bicho aos jogadores.
Por outro lado, e apenas como exemplo, merece um reparo a decantada construção da sede. Consta que o clube dispenderá US$ 12 milhões. Pois bem, na gestão de 1988/89, o renomado arquiteto Rui Ohtake elaborou, gratuimente, o projeto da sede social, obteve o alvará para sua construção e, conforme documento por ele firmado, orçou a obra em US$ 6 milhões. Paira uma dúvida. Por que tal projeto foi desprezado? Com certeza o conselheiro Ives ignorava esse aspecto, pois do contrário não aplaudiria iniciativa tão mais onerosa. E ignorava, porque nem sequer o Conselho foi consultado.
Na verdade, caro amigo Ives, o São Paulo não é o de hoje é o de sempre. Não é obra de uns, é empreitada de todos, que ultrapassa o tempo e supera os homens.

Antonio Claudio Mariz de Oliveira, advogado e membro do Conselho Consultivo do São Paulo

Texto Anterior: Gascoigne vai ser operado em Londres; Patinadora não será recebida por Clinton; Mary Joe Fernandez sai do Amélia Island; Favoritos avançam no Aberto do Japão; Durán duvida da luta contra Pazienza
Próximo Texto: O novo articulador
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.