São Paulo, sexta-feira, 8 de abril de 1994
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O novo articulador

SÍLVIO LANCELLOTTI

Gerhard Aigner. Guarde o leitor esse nome. Trata-se do secretário-geral da Uefa, a entidade que organiza o futebol na Europa. Mais do que João Havelange, foi o tedesco Aigner o grande vencedor político da batalha pela presidência da Fifa. À parte o peso pessoal de Havelange na competição, Aigner se consagrou como o mestre articulador da posição da Uefa, que desistiu nos últimos instantes de apresentar um pretendente seu e de apoiar Sepp Blatter.
Aigner não gosta de Blatter, um inquieto invasor dos espaços alheios, em particular da área do alemão. Através de Blatter, várias vezes a Fifa se intrometeu em assuntos específicos da Uefa –por exemplo, a punição do Olympique Marseille da França, envolvido num escândalo de corrupção. No episódio, a Fifa exigiu que a Uefa suspendesse o Olympique.
Da mesma forma, Aigner foi sempre contrário ao lançamento independente de uma candidatura exclusiva da Uefa. Preferia alguma espécie de acordo com Havelange, um pacto a se costurar em três níveis. Primeiro, apesar de seus atritos com Blatter, a Uefa deveria conseguir de Havelange a manutenção do suíço no comando administrativo da Fifa. Depois que Blatter desandou a trabalhar contra Havelange, em benefício próprio, o brasileiro praticamente rompeu relações com o seu braço direito e ameaçou um expurgo na sua equipe. A queda eventual de Blatter, porém, significaria a ascensão de mais um terceiro mundista à Fifa.
Paralelamente, a Uefa teria de obter de Havalenge dois compromissos. Aceitar, como o seu sucessor, em 98, um representante da Europa. Ainda, interromper o lento e doloroso processo de diminuição das vagas da Europa na Copa. A Uefa conseguiu de Havelange aquilo que pretendia. Para as Copas de 98 e de 2002, na França e provavelmente no Japão, a Ásia e a Concacaf efetivamente merecerão a chance de uma terceira seleção nos certames.
E a convivência de Havelange e Blatter, como sobreviverá? No plano da amizade e do afeto, dificilmente será a mesma de antigamente. No plano do trabalho, o contrato entre Blatter e a Fifa somente termina em 98. "Pretendo honrá-lo até o segundo derradeiro", disse Blatter. Obviamente, Havelange pode demiti-lo, pagando a indenização prevista. Eu não me surpreenderei se isso ocorrer –após a Copa. E eu não me surpreenderei se o seu substituto for Gerhard Aigner.

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