São Paulo, sexta-feira, 8 de abril de 1994
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Filme de estréia de Jennifer Lynch promete muito e sastisfaz pouco

MURILO GABRIELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: "Encaixotando Helena"
Direção: Jennifer Chambers Lynch
Elenco: Julian Sands, Sherilyn Fenn, Bill Paxton, Art Garfunkel, Betsy Clark
Estréia hoje nos cines Ipiranga 2 e Studio Alvorada 2.

Ao concluir "Encaixotando Helena", a diretora e roteirista Jennifer Chambers Lynch (filha de David Lynch) disse que as pessoas iriam "amar ou odiar" seu longa-metragem de estréia. Essa passionalidade da platéia com relação ao filme é apenas mais um de seus clichês e das muitas expectativas não realizadas que ao longo dele se sucedem.
"Encaixotando Helena" conta a obsessiva paixão do jovem –e brilhante– cirurgião Nick (Julian Sands) por Helena (Sherilyn Fenn). Nick acaba, após frustradas e patéticas tentativas de conquistar Helena, amputando os membros da amada e a aprisionando em sua mansão, na esperança de conservá-la para sempre a seu lado.
O filme trata também da redenção de Nick –cuja dificuldade em se relacionar com as mulheres deriva de complexo de Édipo mal-resolvido– e de Helena –que por atrair os homens com sua exuberância física não consegue experimentar o amor verdadeiro.
Essa mistura de conto de fadas macabro e redenção, após um início promissor, se torna superficial e ingênua. A abordagem psicológica é pobre e estereotipada (Freud pensaria duas vezes em enunciar suas teorias se soubesse do estrago que causariam em alguns argumentos de cinema).
O erotismo do filme, cuja cafonice no início parece fruto de um projeto estético (semelhante ao que De Palma pratica em suas obras), pouco a pouco se evidencia como simples mau gosto. Efeito semelhante causam no espectador a fotografia e edição: o que no princípio parece inventividade narrativa logo se mostra como maneirismo –aparentemente um vício genético da famíla Lynch.
Jennifer Lynch aposta também na confusão entre sonho e realidade. O problema aqui é sua tentativa, ao final, de resolver a questão, não mantendo o clima de dúvida e estranhamento que antes conferia interesse ao filme.
A tentativa de criar suspense em algumas cenas resulta, em geral, tão patética quanto as tentativas de aproximação de Nick (pelo jeito a diretora não absorveu bem, tanto no que tange ao erotismo, como ao suspense, as lições de Hitchcock, que ela lista entre suas principais influências).
O filme traz também algumas referências "intelectualizadas", como a presença contante da imagem da Vênus de Milo (alusão à amputação dos membros de Helena) e as árias operísticas que o personagem de Sands escuta em momentos de introspecção.
Como curiosidade, "Encaixotando Helena" traz Art Garfunkel (ex-cara-metade de Paul Simon) como o analista de Nick.

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