São Paulo, sexta-feira, 8 de abril de 1994
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'Cinema precisa ser reinventado', diz diretor

DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A seguir, Greenaway fala da superação do cinema como meio de expressão e de seus novos projetos de filmes.
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Folha – Qual a razão principal de seu desencanto com o cinema?
Greenaway – O catálogo que escrevi para a exposição de Genebra discute detidamente a sensação de que o cinema está mudando após seu primeiro século.
Padrões revistos da cultura cinematográfica, a própria natureza da recepção da TV, o dinheiro e a técnica agora investidos na descoberta de novas experiências visuais e sensoriais, além das demandas de uma nova geração criada por videogames e pela tecnologia interativa, são fatores que sugerem que o cinema convencional não é mais um instrumento satisfatório para avisar, acelerar e excitar a imaginação contemporanea.
Acredito ainda que o cinema, por muitos motivos estéticos, é conservador demais como meio, devido a sua construção como drama, sua escravização pela narrativa, sua imaterialidade, no restrito controle do tempo e do quadro pelo realizador e não pelo espectador. O cinema precisa ser reinventado, pois não é mais o meio imaginativo que se acreditou ser na primeira metade do século 20.
Folha – Mas você parece não ter abandonado o cinema completamente. É verdade que seu novo filme será rodado no Japão?
Greenaway – O filme "O Livro de Cabeceira", que devo rodar no Japão e na China neste inverno, é uma fábula contemporânea situada na década de 90, com suas cenas finais acontecendo no réveillon do ano 2.000. Mas a inspiração é um velho diário milenar chamado "O Livro de Cabeceira de Sei Shonagon", que reúne as experiências de uma dama de companhia da corte de uma imperatriz.
Folha – O que aconteceu com seus projetos anteriormente anunciados, "Augsbergenfeldt" e "55 Men on Horseback"?
Greenaway – "Augsbergenfeldt" é a terceira parte de uma frouxa trilogia que começou com "A Última Tempestade" e "O Bebê de Macon". Por enquanto foi decidido transpor as obsessões do século 17, já que o filme se passaria durante a Guerra dos 30 Anos, para alguma locação exótica ocidental do século 20.
Quanto a "55 Men on Horseback", é ainda meu projeto favorito, mas temo ser longo demais. Seriam necessárias oito horas para contar as 55 histórias individuais que giram em torno do caso amoroso entre uma amazona e seu amante. Existem planos de transformá-lo numa série, mas séries não funcionam no cinema. Suspeito que o projeto vai virar em breve um romance –e então veremos o que acontecerá.

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