São Paulo, domingo, 10 de abril de 1994 |
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Cidade mais velha do país é campeã do cólera em SP
CLÁUDIA VARELLA
A cidade do litoral sul é campeã de casos da doença no Estado este ano. Até a última sexta-feira 16 pessoas haviam sido contaminadas. Três morreram. São Paulo já registrou 39 casos este ano. A causa do problema é a falta de infra-estrutura sanitária. Segundo o SOS Saneamento, apenas 17% da população é servida por rede de esgoto. A doença ameaça 100 mil pessoas (30% da população). Segundo a coordenadora da entidade, Edith Badini da Silva, 49, a cidade apresenta todos os pré-requisitos para o surgimento da doença: falta de saneamento nas casas e esgotos a céu aberto. "A contaminação por via hídrica foi determinante para a propagação de doenças como cólera, verminoses e leptospirose", disse. "Não podemos continuar vivendo dentro de um enorme esgoto a céu aberto. A questão é de vida ou morte", diz o prefeito Luiz Carlos Luca Pedro (PT), 39. O superintendente regional da Sabesp na Baixada Santista, João Paulo Tavares Papa, 35, afirmou que 46% dos imóveis de São Vicente têm rede de esgoto. Segundo ele, todas as casas de veraneio têm água e esgoto. O fornecimento de água atingiria 96% das casas de moradores da cidade. Papa diz que três obras em andamento (orçadas em US$ 7,5 milhões) devem melhorar a rede. A Secretaria Municipal de Saúde instalou 33 caixas de cloração nos 19 canais da cidade para conter o avanço do vibrião do cólera nas áreas onde não há saneamento. A pesca e a retirada de frutos do mar nas pontes dos Barreiros e do Mar Pequeno –locais considerados de risco pela Vigilância Sanitária– são desaconselhadas. "Ainda não é necessária a proibição", disse Reis. Ele afirmou que espera liberação do Ministério de Saúde de CR$ 50 milhões para programas de combate à doença. José Aparecido Soares, 37, que pescava quinta-feira passada na Ponte dos Barreiros, disse não ter medo de contrair o vibrião. "Se fritar o peixe a 70 graus por 20 minutos o vibrião morre", disse. José Pascoal da Silva, 62, disse que há um mês teve diarréia e ficou internado. "Comi muito marisco, mas acho que a desinteria foi por causa de um frango." "Bem fritinho, o micróbio da cólera não pode viver,", disse Pedro Valentim, 75, que pescava quinta-feira à tarde. Ele não acredita que possa contrair a doença. No bairro Esplanada dos Barreiros, José Rodovalho, 67, também disse não temer o vibrião: "Como 20 ostras de uma só vez". Segundo Gilmar Pascoal da Silva, 35, a venda de ostras diminuiu com a divulgação do cólera. "Antes, vendia dez dúzias por dia. Hoje, vendo no máximo quatro." O desempregado José Carlos da Silva, 35, mora com três adultos e três crianças numa casa de alvenaria de dois cômodos, na favela Sá Catarina de Moraes. Ele, o irmão José Roberto, 29, e o sobrinho Márcio Silva, 16, contraíram cólera. José Roberto morreu. Foram os primeiros casos confirmados neste ano na cidade. A vigilância informou que José Roberto foi considerado "caso compatível", isto é, a doença foi constatada devido aos sintomas, mas não foram feitos exames. José Carlos diz que ficou doente em março, depois de comer peixada na ponte dos Barreiros. "Comi siri e marisco. Meus irmãos também. Todos ficaram doentes." O outro irmão, Gélson, 31, morreu em março com sintomas da doença. Oficialmente, o caso não é de cólera. A vigilância aguarda resultado do Instituto Médico Legal. Texto Anterior: Itália reduziu roubos punindo receptadores Próximo Texto: Favela México 70 registrou 5 casos Índice |
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