São Paulo, domingo, 10 de abril de 1994
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Compra de terras teve participação brasileira

DO ENVIADO ESPECIAL A UNA (BA)

A compra de terras para ampliar a Reserva Biológica de Una, município próximo de Ilhéus (sul da Bahia), foi uma operação complicada, montada com a finalidade clara de evitar reações nacionalistas xenófobas. Afinal, além do próprio Fundo Mundial para a Natureza (WWF), envolveram-se nela organizações com nomes tão sonoramente brasileiros quanto Wildlife Preservation Trust (Canadá), Jersey Wildlife Preservation Trust (idem), Brookfield Zoo, Chicago Rainforest Action Group e Conservation International (as três últimas dos Estados Unidos).
Em primeiro lugar, a compra não foi feita diretamente pelo WWF ou qualquer uma de suas parceiras estrangeiras. Os fundos foram repassados para a fundação brasileira Biodiversitas, a compradora oficial. Esta, no entanto, não chegou a tomar posse da terra, imediatamente doada para o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais).
Os mais de US$ 250 mil levantados sob coordenação do WWF serviram para aumentar a área da reserva em 1.700 hectares, com a aquisição de duas fazendas em 1990 e 1993. Parte do dinheiro foi usada também para desocupar 1.500 ha invadidos por posseiros logo depois da criação da reserva, em 1980. Os invasores recebem no entanto apenas uma indenização pelas benfeitorias. Ainda há 15 posseiros dentro da reserva.
Antena
Segundo estudo do biólogo James Dietz, da Universidade de Maryland (EUA), a compra de terras é apenas uma medida emergencial para garantir o território mínimo necessário para a tornar geneticamente viável a população de micos da espécie L. chrysomelas.
A meta é chegar a pelo menos 8.000 ha. Numa área menor do que essa não poderiam sobreviver micos em quantidade suficiente para evitar os intercruzamentos ("inbreeding") que podem enfraquecer a descendência. Pelos cálculos de Dietz, uma reserva de 8.000 ha reduziria de 3,2% para 0,4% a probabilidade de extinção do mico-leão-da-cara-dourada nos próximos cem anos.
Dietz, que é casado com uma integrante do WWF-EUA (Lou Ann Dietz), estuda os micos-leões de Una desde 1984. Foi ele que introduziu a técnica de rastreamento dos bichos por rádio, que permite sua rápida localização na mata. Em pouco mais de uma hora de caminhada puxada, o guia José Renato Oliveira da Silva foi capaz de achar três animais de um bando de oito. Ele estava munido de antena e fones para captar os bips emitidos pela coleira-transmissor da fêmea dominante do grupo (a única apta para reprodução).

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