São Paulo, domingo, 10 de abril de 1994
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É isso aí, bicho

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Ouvi num dos noticiários da TV: há indícios de que pelo menos 10% da lista do Castor esteja infiltrada de nomes e indicações posteriores à apreensão. Fato mais ou menos previsível, conhecendo-se a fauna de um e outro lado da questão. Evidente que a suspeita de manipulação não invalida o núcleo do escândalo, mas desde já prepara a confusão que, de resto, já está armada.
Primeira pergunta: porque 10% e não 5% ou 20%? Quem descobriu que apenas 10% é infiltrado? Afinal, quem é quem no formidável rolo armado pela corrupção e pela anticorrupção? Numa hora dessas, a tradição é recorrer a dois lugares-comuns: formar a comissão "de alto nível" (que mais cedo ou mais tarde baixará de nível) e apurar rigorosamente os fatos "doa a quem doer". São formas cabalísticas que obrigatoriamente dão em nada.
Até o momento em que escrevo, só se pode acreditar nos chamados réus confessos, naqueles que bateram no peito e admitiram ter recebido dinheiro. São eles: Agnaldo Timóteo, Cidinha Campos e Betinho. O primeiro nem está aí: declarou que Castor é seu pai branco e que sempre apelou para ele em momentos de aflição. No fundo, é uma forma de honestidade que devemos respeitar. A segunda cometeu dois erros: recebeu uma doação para um asilo mas a entidade citada por ela negou ter recebido o dinheiro. O terceiro –como sempre– é aquele que Teresa deu a mão: está acima de qualquer suspeita; mesmo assim, admitiu ter recebido dinheiro do bicho para um fim humanitário e ninguém duvida disso.
Os três exemplos revelam os três sulcos por onde correram as águas da corrupção. Pode-se acrescentar um quarto sulco, os Pilatos desse credo complicado que ameaça ficar mais complicado. Aproveitando a confusão, um irresponsável inventou que FHC teria renunciado à candidatura presidencial para apoiar Lula. O empresariado e as elites em geral, se tinham alguma dúvida, depois do susto ficarão mais convencidas da urgente necessidade de apoiar FHC.

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