São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 1994
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Venda de droga e jogo não se misturam no morro

SÉRGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Nos morros cariocas, "bocas" de venda de drogas e pontos de jogo do bicho funcionam em locais diferentes.
A separação é uma estratégia de traficantes e bicheiros. Eles acreditam que, distanciados, atrapalham a ação policial.
Outra regra das favelas é não misturar os funcionários do bicho com os do tráfico. Quem vende cocaína e maconha não anota as apostas, assim como o anotador não se envolve com o comércio de drogas.
Quase não há exceções. São poucos os flagrantes de empregados do jogo do bicho com tóxico. Eles sabem que a punição é imediata caso o bicheiro descubra que o anotador vende drogas.
O empregado é afastado do serviço e pode vir até a ser morto, caso os banqueiros considerem a traição imperdoável.
Apontada como a maior favela do Brasil, a Rocinha (São Conrado, zona sul do Rio) é um exemplo de que o varejo de bicho e tráfico não se misturam.
"Aqui o bicho e a venda de tóxicos são desvinculados", afirma o administrador regional da Rocinha, Jorge Nascimento da Silva, presidente da União Pró-Melhoramentos da favela, que agrupa cerca de 200 mil moradores.
Na Rocinha, existem seis pontos de jogo do bicho e dezenas de "bocas de fumo", nenhuma delas próxima dos locais onde trabalham os anotadores.
O "banqueiro" da área é conhecido por "seu" Elson. No ano passado, ele teria comprado os pontos do contraventor Emil Pinheiro, condenado a seis anos de prisão.
Com o escândalo do bicho, as anotações na Rocinha passaram a ocorrer de forma mais discreta. De acordo com o administrador regional, os bicheiros, gerentes e anotadores da Rocinha estão "se resguardando" desde que a Procuradoria Geral de Justiça apreendeu a suposta lista de pagamentos do "banqueiro" Castor de Andrade. (Sérgio Torres)

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