São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 1994
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Crédito em URV tem juros de 3% ao mês

DA REDAÇÃOE DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos deverão começar a conceder empréstimos em URV com taxa de juros média de 3% ao mês, sem considerar encargos tributários. Isso equivale a 42,6% reais ao ano.
Essa expectativa é baseada nas taxas de juro cobradas nos descontos de duplicatas, autorizados há mais tempo pelo Banco Central (BC).
A Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos) fez ontem uma pesquisa informal entre algumas instituições filiadas e concluiu que há uma disposição em adotar financiamentos em URV, conforme prevê a resolução 2.061, do BC, assinada na última sexta-feira.
A resolução só não estende a possibilidade desses financiamentos ao Sistema Financeiro da Habitação e ao crédito rural.
A adesão aos empréstimos em URV, entretanto, não deve ser generalizada, pelo menos neste primeiro momento. Como os bancos emprestam recursos captados do público, todo crédito deve "casar" as duas pontas da operação.
Até agora, os bancos não têm como fixar o custo do dinheiro em URV e temem efetuar uma "operação cega".
Os financiamentos em URV deixariam de ser "cegos" se houvesse captação de dinheiro em URV através de títulos privados, como os CDBs (Certificados de Despósito Bancário), e títulos públicos.
Mas o presidente da Febraban, Alcides Tápias, entende ser possível financiar em URV mesmo sem a captação com este indexador.
A preocupação de muitos bancos é maior com operações de prazo mais longo porque elas poderão vencer na vigência da nova moeda, o real. O mercado entende que o patamar de juros reais (acima da inflação) mudará radicalmente na passagem para o real e não se tem idéia de qual será.
A previsão é de que os juros serão bem mais elevados na entrada da nova moeda porque o governo teme, com a queda abrupta da inflação, uma fuga em massa para o consumo e formação de estoques. Isso teria consequências inflacionárias.
Bancos procurados pela Folha ontem ainda estudavam fórmulas para viabilizar o uso da URV nos cheques especiais. Os estudos devem prosseguir por mais algum tempo.
Esse é o caso do Unibanco, que, apesar com tudo pronto para operar em URV, prefere esperar a captação nesse indexador, disse Orestes Hypolito, diretor de marketing e produtos.
Financeiras
Apesar do problema de captação, a oferta de crédito em URV já começou entre as financeiras, disse ontem o presidente da Acrefi (associação das empresas do setor), Alkindar de Toledo Ramos.
Segundo ele, os juros variam de 2,5% a 5% ao mês (34,5% a 79,6% ao ano). Os mesmos percentuais já vinham sendo cobrados nas operações com TR (taxa referencial de juros) ou outros indexadores, disse.
Toledo Ramos considera essas taxas "elevadas", mas adequadas ao momento econômico. Ele afirmou ainda que em todo o mundo o crédito direto ao consumidor e os empréstimos pessoais (grosso das operações das financeiras) costumam ter juros maiores que as demais operações.
O presidente da Acrefi confirmou que as instituições correm risco ao emprestar em URV e captar em cruzeiros reais. O risco, por enquanto, é aceitável, disse. Tende a crescer se a procura por essas operações aumentar.
O risco das operações em URV, disse Alkindar Ramos, "depende do volume captado e emprestado e dos prazos."
O presidente da Acrefi não acredita num aumento do volume de crédito após a autorização da modalidade em URV. O empecilho é a taxa de juros. "Quem pega empréstimo hoje é realmente porque precisa", afirmou.

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