São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 1994
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Por que o consórcio vai crescer com a estabilização

ALENCAR BURTI

O plano de estabilização econômica, se der certo, trará uma expansão nos negócios de diversos setores. O segmento de consórcios de veículos será um deles. Comprova esta tese o histórico desta brasileiríssima forma de acesso a bens duráveis que já entregou mais de cinco milhões de unidades até hoje.
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que o sistema de consórcio tem sido, desde os anos 60, uma importante ferramenta para a comercialização de automóveis, caminhões e ônibus. A razão disso: em um país de recursos escassos, esta alternativa revelou-se sintonizada com o limitado poder aquisitivo nacional por proporcionar desembolsos em prazos mais longos e fuga das altas taxas de juros.
Hoje, as vendas feitas por meio de consórcios atingem cerca de 18% do volume de veículos em geral colocado no mercado. Tal participação está bem abaixo dos 35% alcançados nos anos 70. Frequentes mudanças na legislação que rege o sistema, uma produção dissociada da demanda, artificialismos na política de preços e alta ingerência governamental foram os principais fatores que motivaram as turbulências na credibilidade do sistema.
Agora, no entanto, o sistema está pronto a crescer novamente porque foi saneado em todos os sentidos: empresas sem qualificação não podem mais vender cotas e formar novos grupos; não se verificam atrasos nas entregas de modelos já premiados; o participante de qualquer grupo tem direitos que impedem que ele seja prejudicado em qualquer hipótese, a partir do próprio Código de Defesa do Consumidor.
A abertura e o amadurecimento do mercado de veículos respaldam o consumidor de maneira inédita. Os preços são livres ou acordados por protocolos; o mercado livre e competitivo tem permitido convivência adequada entre modelos nacionais e importados; a produção cresce com gestão moderna e eficiente compatibilizando oferta e procura. E, por fim, o Banco Central exerce fiscalização rígida sobre o mecanismo do sistema como um todo.
Reforçando nossa crença de expansão do sistema está a necessidade de uma política de juros, exercida pelo governo, destinada a controlar o consumo. Ela torna o crédito bancário alternativa de alto custo para a maior parte da população, enquanto, como contraponto, as parcelas dos consorciados se compatibilizam sem sobressaltos com a URV que virará real.
São fatores que permitem prever que num mercado em expansão que volta a antigos patamares de consumo superiores a um milhão de unidades por ano, o sistema de consórcio terá seu lugar garantido como opção econômica e pertinente numa sociedade que se moderniza rapidamente e busca a estabilidade.

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