São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 1994
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Chico Science fecha Abril Pro Rock em ritmo de festa

HÉLIO GOMES
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

A segunda edição do festival Abril Pro Rock acabou em festa, na madrugada de domingo em Recife. O balanço final do evento mostra que iniciativas como essa não são só viáveis: festivais de rock viraram um ótimo negócio.
Todos saíram lucrando com o Abril Pro Rock: onze bandas locais ganharam espaço na mídia, o público –cerca de mil pessoas em cada noite– entrou em sintonia com o que se faz no resto do país e os organizadores consolidaram um evento que nasceu a partir de passos tímidos, dados em 93.
No sábado, não havia mais a ansiedade do público pela a apresentação de uma atração em especial, como aconteceu na noite anterior com o rapper carioca Gabriel O Pensador.
A última noite do festival foi uma celebração de ritmos e cores diferentes. Chico Science & Nação Zumbi fecharam a maratona musical de oito horas, após a apresentação de outras sete bandas.
O primeiro grupo a subir ao palco foi Velho Mangaba e Suas Pastoras Endiabradas. Mais regional e tradicionalista que qualquer outra do Abril Pro Rock, a banda faz uso de estética circense em seu show, emoldurada por forrós tipicamente pernambucanos.
As quatro Pastoras Endiabradas e os músicos que o acompanham Velho Mangaba marcaram presença. A formação da banda e sua sonoridade contrastaram em muito com os outros grupos do festival. Guitarras deram lugar a banjo, violão, triângulo e zabumba.
Logo em seguida, os integrantes do grupo Cavalo do Cão mostraram competência e profissionalismo. O som da banda pode ser definido como um mix de rock e funk, sobretudo na levada da guitarra de Paulo Trajano. O baixista Areia impressionou o público com sua desenvoltura ao fazer o único solo de baixo em todo o festival.
A banda Eddie –cultuada pelo público local– impressionou com seu som calcado no punk rock e suas variações. Sonoridades à la L7 ou Ramones eram claramente identificados em suas músicas.
O grupo fez um show onde pequenos erros foram compensados por uma performance visceral e tipíca de grandes bandas de rock.
A cantora paulista Lara Hanouska –acompanhada pela competente banda Living in the Shit, de Maceió– subiu ao palco logo depois. Claramente nervosa, Lara foi a única atração do Abril Pro Rock que recebeu vaias do público em sua presentação.
Lara estava no lugar errado, na hora errada: o público que ouviu seu pop rock esperava pelo punch de Devotos do Ódio e Chico Science & Nação Zumbi.
Dreadful Boys veio em seguida para celebrar de forma "comunitária" a cena musical do Recife. Seu show acabou com a presença de membros de várias bandas da cidade no palco, cantando ao lado dos quatro membros do grupo.
Devotos do Ódio veio depois para fazer um dos melhores shows de todo festival. O punk rock é reinventado pelo grupo nascido no alto (morro) do Zé do Pinho, uma das regiões mais pobres da capital pernambucana.
Completamente consolidada junta ao público local, a banda de Cannibal (baixo e voz), Celo (bateria) e Neilton (guitarra) encerrou seu show ao lado dos rappers do Faces do Subúrbio, grupo que também surgiu no Zé do Pinho.
A noite foi fechada pelo maior nome da cena musical de Recife, Chico Science & Nação Zumbi. A performance ao vivo do grupo é uma festa onde o mangue beat pulsa poderosamente.
Chico fez um show memorável, onde as canções de "Da Lama ao Caos", seu primeiro disco, colocaram mais lenha na fogueira do Abril Pro Rock. A venenosa mistura feita pelo grupo colocou um ponto final memorável no festival.

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