São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 1994
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'Testemunha' desvenda cultura

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Filme: A Testemunha
Produção: EUA, 1985, 112 min.
Direção: Peter Weir
Canal: Globo, 15h.

A TV transformou o mundo em um território comum e, de certa forma, liquidou uma parte do mistério do cinema clássico. Da Bósnia a Singapura, já não existe lugar indevassado, desses que as imagens de cinema trabalhavam na era clássica com alguma sem-cerimônia (recriando o Oriente em Hollywood etc.).
Essa desvantagem pode se converter em vantagem, como fez Peter Weir em "A Testemunha". Existe o enredo, em que uma criança presencia um crime numa estação de trem. O policial Harrison Ford encarrega-se de proteger o menino e sua bela mãe (Kelly McGillis).
O que diferencia o filme é que mãe e filho pertencem à comunidade Amish, que recusa e ignora os costumes do século 20. Esses pacifistas radicais têm de aceitar Ford, seu protetor. Tanto mais que o menino não testemunhou um crime qualquer: os responsáveis são gente da própria polícia e não usarão luvas de pelica para defender seus interesses.
Essa particularidade é que oferece a Weir a oportunidade de introduzir seu espectador a um mundo desconhecido (que se esconde da invasão da mídia), que preserva uma pureza "original" –ou seja, não tem seus costumes contaminados pela mídia.
Essa estranha mistura de policial com trabalho antropológico desdobra-se, para completar, em um caso amoroso entre Ford e a mãe do garoto, tendo o menino mesmo como mediador.
Ao assumir a função paterna (de protetor), Ford promove o encontro de duas culturas, levando o espectador ao reconhecimento e à aceitação do outro. A passagem dos Amish do estágio de "exotismo" à existência plena se faz com um delicadeza proporcional à violência da parte policial. Ambas, aliás, são bem levadas.

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