São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 1994
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Estabilidade dá voto

O resultado da eleição de domingo na Argentina, para a formação de um Congresso constituinte, reforça inapelavelmente o valor eleitoral da estabilização da economia.
O partido governante, no caso o peronista, obteve a sua quinta vitória eleitoral consecutiva desde que assumiu o governo, em meados de 1989. Para explicar a sucessão de triunfos basta uma comparação: quando tomou posse o atual presidente, Carlos Saúl Menem, a inflação, se anualizada, bateria em infernais 4.923%. No ano passado, foi de apenas 7,4%, o mais baixo índice em 38 anos. Além disso, a economia argentina vem crescendo a uma taxa de cerca de 8% ao ano nos três últimos anos.
Mas mesmo o crescimento tem lá suas sombras. Há, hoje, na Argentina cerca de 2 milhões de pessoas desempregadas ou subempregadas, o que equivale a 18% da população economicamente ativa. Isso colaborou para fazer com que o país caísse de 43º lugar em 1990 para 46º no ranking de Desenvolvimento Humano das ONU. Esse índice é o único mundialmente aceito que mescla dados sobre macroeconomia com os relativos à saúde, educação e outros indicadores sociais.
Apesar das sombras, o eleitorado continua a dar um voto de confiança ao presidente da República, que, aliás, tem agora aberto o caminho para se reeleger. A revisão constitucional, a ser feita por uma assembléia exclusivamente destinada a esse fim –tese que se discute no Brasil– certamente suprimirá o veto da atual Constituição à reeleição.
Há inúmeros outros exemplos, em países vizinhos ou próximos, de como a estabilidade dos preços gera popularidade dos governantes de turno. Mas o caso argentino é, talvez, o mais emblemático.
Mais emblemático ainda, para o Brasil, quando se considera que o país vai adotar, logo, uma nova moeda, que a maioria dos economistas considera capaz de derrubar violentamente a inflação, pelo menos nos seus primeiros meses. A consequência eleitoral previsível desse cenário, se ele de fato se efetivar, seria o fortalecimento da candidatura do governo responsável pela queda, no caso a do senador Fernando Henrique Cardoso.

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