São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 1994
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Erros abalam credibilidade da imprensa

NELSON BLECHER
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS

A febre de publicação de denúncias sem rigorosa apuração jornalística, a arrogância de editores em relação aos leitores e o facciosismo editorial foram apontados como as mazelas que abalam a credibilidade do jornalismo brasileiro no seminário "A imprensa em questão", encerrado ontem na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
"A imprensa está muito ruim, erra demais, é tendenciosa e mesmo quando se proclama apartidária tem tantos problemas de origem que precisa ser reformulada", disse Junia Nogueira de Sá, ombudsman da Folha.
Para Junia, que está no cargo desde setembro do ano passado, a existência do ombudsman, cuja função é defender os interesses dos leitores, representa "desconforto para a Redação".
Ela computa cerca de 120 erros diários de acabamento no jornal. "Nunca vamos saber o número exato dos erros de informação, que atingem a credibilidade, algo que só pode ser obtido através da precisão", afirmou.
Atendendo a 500 telefonemas e cartas mensais, Junia declara-se "entristecida" quando o diálogo se inicia com um pedido de desculpas do leitor, que ao recorrer à ombudsman exerce um direito de cidadania.
O temor e a desconfiança de leitores e fontes diante do poder da imprensa foram também abordados por Adísia Sá, ombudsman do jornal "O Povo", de Fortaleza: "Uma sociedade que teme a imprensa é uma sociedade doente. Tem algo errado quando um cidadão tem medo de procurar seu direito".
Críticas ácidas foram formuladas por Dante Mattiussi, diretor da revista "Imprensa", à tendência da mídia de rapidamente elevar suspeitos de crimes à condição de culpados:
"Câmeras e microfones são transformados em armadilhas por repórteres mal intencionados e as redações se arvoram em tribunais sumários", afirmou.
Ana Arruda Callado, professora de jornalismo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) diagnostica essa situação no abandono da prática da reportagem. "Os repórteres saem à rua não mais para apurar, a atividade que é a razão de ser do jornalismo, mas para buscar informações que comprovem a pauta do editor. Isso é assustador".
Magda Almeida, ombudsman do jornal carioca "O Dia", disse não ser possível desvincular a crise de competência às "omissões predatórias" das faculdades de jornalismo "onde os professores fingem que dão aulas e os alunos fingem que aprendem".
Ela arrancou risos da platéia ao apresentar resultados de testes aplicados a estudantes de jornalismo. Um deles atribuía ao líder fascista italiano Benito Mussolini a responsabilidade pela revolução russa de 1917.

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