São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 1994
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Lula e os radicais

Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato do Partido dos Trabalhadores à Presidência da República e primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, vem tentando evitar o pior cenário para a sua candidatura, que seria uma radicalização do partido à esquerda.
De fato, embora o processo de escolha dos delegados ao Encontro Nacional do PT –que vai definir o programa de governo do partido– não tenha ainda se encerrado, parece certo que nenhuma das facções internas da agremiação conseguirá obter a maioria absoluta.
O grupo de Lula conseguiu, até o momento (estão definidos 54% dos delegados), cerca de 37% do colégio. Se esse número não basta para garantir-lhe a hegemonia, o fato de que dificilmente alguma facção venha a obter maioria força o cenário da negociação, que é favorável ao candidato. Negociar significa ceder e, sempre que se cede, diminui o espaço para a radicalização.
A defesa de teses extremadas é o que menos interessa a Lula no cenário eleitoral que se desenha. Se os candidatos que chegarem ao segundo turno forem de fato Lula e o ex-ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso como indicam as sondagens, o petista, para convencer o eleitorado, deverá assumir um tom bem mais conciliatório. Menos radical do que se disputasse com um candidato claramente identificado com a direita como, por exemplo, o prefeito Paulo Maluf.
Fernando Henrique Cardoso, em que pese sua provável aliança com setores bastante conservadores da sociedade, é um homem oriundo da centro-esquerda, de modo que um discurso petista tentando apenas opor direita a esquerda encontraria menor receptividade.
De qualquer forma, o simples fato de os radicais do PT não estarem conseguindo dominar a convenção, como dominam a Executiva, já é motivo de alívio. Afinal, um candidato com chances reais de chegar à Presidência não pode tornar-se refém de um grupo cujas idéias anacrônicas não são partilhadas pela maioria dos cidadãos brasileiros.

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