São Paulo, sábado, 16 de abril de 1994
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Brasil fecha acordo com bancos credores

FERNANDO CANZIAN

O governo anunciou ontem às 19h a conclusão do acordo da dívida externa. O anúncio coube ao diplomata Sérgio Amaral, chefe de gabinete do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero.
O acordo, que envolve US$ 52 bilhões, foi assinado em Nova York pelo presidente do Banco Central, Pedro Malan, e o presidente do Comitê Assessor dos Bancos Credores, William Rhodes (também vice-presidente do Citibank, maior credor privado do país).
Falando em nome da equipe econômica, Amaral disse que o acordo encerra um período de instabilidade nas relações externas do país, e favorecerá o equilíbrio das contas públicas.
Apesar do desfecho favorável, o dia foi tenso para a equipe de renegociação da dívida. Em Nova York , advogados dos credores exigiram uma série de documentos que tiveram de ser assinados de última hora.
As cotações dos títulos da dívida voltaram a cair ontem no mercado financeiro com a falta de notícias positivas.
Até o último momento havia a expectativa de que o empresário Kenneth Dart bloqueasse o acordo na Justiça.
Dart detém 4% (US$ 1,4 bilhão) da dívida do Brasil com os bancos privados e não concordava com a renegociação, que prevê a troca de papéis da dívida antiga por novos títulos.
A expectativa derrubou pelo segundo dia consecutivo as cotações dos títulos da dívida brasileira.
As cotações dos Bônus C, que representam a dívida em renegociação, caíram de 47 centavos por dólar para 44,5 centavos (estavam em 49 centavos por dólar na quarta-feira).
Os IDU (de juros vencidos da dívida) caíram de 73 centavos por dólar para 72,5 centavos.
Para fechar o acordo, o Brasil teve que dar US$ 2,5 bilhões de suas reservas como garantia aos credores.
O dinheiro está depositado na forma de títulos do Tesouro dos EUA no BIS, na Suiça (com outros US$ 300 milhões dos credores).
O país precisou usar as reservas porque não conseguiu o aval do FMI no mês passado para o acordo. O Fundo tinha dúvidas sobre o plano de estabilização brasileiro.
Se tivesse obtido o aval, o país poderia ter conseguido mais de US$ 1 bilhão do Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento para usar como garantia.
Rhodes, do Comitê Assessor dos Bancos, acredita que, fechado o acordo, o Brasil volte ao FMI para normalizar suas relações com o Fundo e consiga a liberação dos recursos.
Rhodes acha também que a normalização das relações do país com a comunidade financeira internacional aumente o volume de investimentos estrangeiros no país.
Amaral confirmou que Ricupero assinou documentos recebidos por fax, dos EUA. Um funcionário do Banco Central teve de viajar às pressas para Nova York, pela manhã levando outros ofícios.
Um telefonema do presidente do BC, Pedro Malan, de Nova York, às 18h30, tranquilizou a Fazenda. Em seguida, o presidente Itamar Franco foi avisado por Ricupero de que o comunicado oficial do acordo estava sendo redigido nos EUA.
Esse comunicado era esperado para o início da tarde e foi atrasado devido aos problemas burocráticos. "É uma negociação complicadíssima", definiu Amaral, ao anunciar o acordo.

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