São Paulo, sábado, 16 de abril de 1994
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Não tem mais herói pra botar em dinheiro!

JOSÉ SIMÃO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Bomba! Bomba! O bicho já tá legalizado. Pelo Banco Central. Você já viu as cédulas do real? É tudo com bicho. Isso não é moeda, é o inconsciente coletivo. Cem reais é um peixe. Devia ser um peido. Rarará! Cem reais, um peixe: tá certo, ninguém consegue pegar. Cinquenta reais, uma onça. Dez reais uma arara.
Com a inflação, em dois dias a arara vira um ovo de codorna. Cinco reais, uma garça. Garça? Garça é pintura de botequim do Rio de Janeiro. E um real é um passarinho. Vai gastar voando.
Gente, o que é isso? Uma homenagem ao Castor de Andrade? O real é uma homenagem ao Castor!
Também, vai botar a cara de quem? Muda tanto de moeda! Não tem mais quem pôr? Esgotou o panteão de heróis brasileiros! Casa Real já foi toda, general foi tudo, índio também, até a Cecília Meireles dançou. Acho que nem as famílias deixam mais. Quem quer ver um ancestral virar lixo?
Ontem na rua tinha uma nota de 50 e ninguém se abaixava pra pegar. "Ah, eu vou abaixar pra pegar uma nota de 50?", a mulher dizia. Tá vendo, até o Câmara Cascudo virou lixo. Por isso que as famílias não querem mais Deviam fazer nota em homenagem aos palhaços: Fred, Carequinha, Piolim, Arrelia e Meio Quilo.
Aliás, sabe o que eles deviam fazer na cédula: deixar um espaço em branco e cada um desenhava o que quisesse. Rarará. Nota personalizada! Rarará! Tá no ar mais uma calúnia do Macaco Simão!
E pra completar a bicharada não vai ter nota com castor? Deviam fazer uma nota de 220 reais com a efígie do Castor. E mico? Não tem mico? Falta o mico, a nota do povo brasileiro. E tigre? Deviam fazer uma nota com um tigre com a cara do FHC. Em homenagem ao tigre da inflação! E veado não tem? Devia ter 24 reais, um viado!
Aliás, por falar nisso diz que três bichas foram jantar fora e na hora da sobremesa elas pediram mamão. E o garçom: "Só tem mamão macho". "Então pica pra três!", gritaram elas. Rarará. Macaco Simão pra 94! E o povo pra 69!

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