São Paulo, sábado, 16 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Massacre em igreja de Ruanda mata 1.180

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Um massacre em uma igreja da cidade ruandesa de Gikoro deixou 1.180 civis da etnia tutsi mortos, disseram ontem o jornal "El País" e a imprensa belga.
A matança teria acontecido na última quarta-feira na cidade, que fica a 40 km de Kigali (capital). O padre esloveno Augusto Horvat afirmou ao diário espanhol que os tutsis (etnia minoritária do país) foram mutilados e esquartejados.
Os agressores entraram armados de facões e armas de fogo. "Foram os hutus. Todos os mortos são tutsis", disse Horvat.
As duas etnias reiniciaram a guerra civil de Ruanda na quinta-feira da semana passada, um dia depois do atentado que matou o presidente do país, Juvenal Habyarimana, e o seu colega do Burundi, Cyprien Ntaryamira.
Vizinhos, os dois países do centro-leste da África são divididos pela rivalidade entre as etnias hutu (majoritária) e tutsi.
Os combates em Kigali continuaram ontem pelo nono dia consecutivo, com o fracasso da primeira reunião de paz entre os rebeldes e as forças do governo.
Funcionários da ONU disseram que, apesar da invasão por parte dos rebeldes, nenhum grupo parece controlar a situação.
O governo da Bélgica pediu à ONU que a operação das forças de paz seja suspensa porque o processo de paz e democracia sofreu "ruptura brutal".
O padre croata Danko Litric disse que os mortos de Gikoro são 1.180. "É impossível contar os corpos", disse o padre Horvat.
"Ontem (quarta), em meio ao amontoado de cadáveres, partes mutiladas de corpos, sapatos perdidos e um rio de sangue, um braço se moveu, pedindo ajuda", escreveu o jornalista Alfonso Armada, do "El País".
Segundo ele, junto com os dois padres, pediu ajuda a soldados italianos. Eles teriam dito estar encarregados de resgatar outros padres.
"Não podemos fazer nada. Não é problema nosso", disse o comandante italiano, de acordo com o jornal espanhol.
Três freiras espanholas, já levadas para seu país, disseram que o convento que ocupavam na cidade de Kibuye ficou cercado por hutus armados de facões e lanças.
A guerra tribal começou em 1990, com a invasão dos tutsis da Força Patriótica de Ruanda. Em agosto passado foi firmado um acordo de paz, que vigorou até a morte de Habyarimana. Os combates entre a FPR e as forças do governo deixaram quase 10 mil mortos e pelo menos 20 mil refugiados em países vizinhos, segundo a ONU.
Apesar da fuga do governo de Kigali na última segunda, o Exército hutu tem resistido à ofensiva e a cidade ainda não está sob controle dos rebeldes.

Texto Anterior: Clube perdoa dívida polonesa
Próximo Texto: Vôos dos EUA no Iraque são suspensos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.