São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 1994
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55% são contra monopólio do petróleo

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos brasileiros é contra a existência isolada da Petrobrás no setor de exploração de petróleo no Brasil. Este é o resultado mais significativo de pesquisa Datafolha realizada em todo o país nos dias 4 e 5 deste mês.Indagados se aceitam, além do governo, empresas privadas explorando e refinando petróleo, 55% dos entrevistados responderam afirmativamente. Esse percentual é a soma de 19% que aceitam empresas privadas nacionais ou estrangeiras e outros 36% que só aceitam firmas brasileiras no setor.
A pesquisa Datafolha também detectou que 27% preferem apenas o governo explorando petróleo no país. Outros 17% não souberam responder.
Foi a primeira vez que o Datafolha perguntou especificamente em uma pesquisa sobre a participação de empresas privadas no setor de petróleo. Não há, portanto, forma científica de comparar o resultado dessa pesquisa com opiniões anteriores dos brasileiros.
Quando o assunto é a Petrobrás, a 15ª maior empresa do mundo, os pesquisados demonstraram ser um pouco mais conservadores. O maior percentual de respostas (40%) foi contrário à venda da empresa estatal.
Mas como no caso da Petrobrás o Datafolha já fez uma pesquisa no ano passado, é possível dizer que a opinião sobre a estatal mudou significativamente de junho de 93 para cá.
Embora existam 40% contrários à venda da empresa, esse percentual era de 49% em 15 de junho do ano passado.
Coincidentemente, foi nesse período que o assunto ganhou atenção da mídia. Houve um duelo entre os defensores da estatal e do monopólio do Estado no setor petrolífero contra os que pregam uma liberalização, com a venda da empresa e entrada do capital privado.
Pelo resultado da pesquisa Datafolha, é correto concluir que os liberais venceram no campo das idéias. Mas acabaram derrotados na prática. A revisão constitucional que poderia flexibiliar o monopólio estatal do petróleo está sendo enterrada sem tocar nesse assunto.
Além de ter despencado o percentual dos que dizem ser contra a venda da Petrobrás, também aumentou de 36% para 39% o número de pessoas a favor da passagem da estatal para a iniciativa privada.
No meio da guerra de informaçõs sobre o que seria melhor para o país, cresceu o número de pessoas que não sabem se posicionar. De julho de 93 até hoje, subiu de 13% para 19% os que optaram por não responder se são a favor ou contra a venda da Petrobrás.
A Petrobrás, argumenta o deputado Roberto Campos (PPR-RJ), é pior do que o Brasil. Enquanto o país é a 10ª maior economia do planeta, a Petrobrás é 15ª empresa; a 19ª em reservas e a 20ª em produção. Para Campos, um dos mais conhecidos liberais e adversários da estatal, melhor seria vender a empresa o quanto antes.
Para Fernando Gasparian, ex-deputado federal (PMDB-SP), "é uma estupidez querer vender a Petrobrás". Conhecido por suas posições nacionalistas, Gasparian acredita que o valor da estatal seja de US$ 100 bilhõe. A própria Petrobrás estima seu patrimônio em US$ 50 bilhões.
Telefones
O Datafolha não fez pergunta específica sobre a venda da Telebrás ou de suas subsidiárias, como a Telesp ou Telerj. Indagou apenas sobre a presença do setor privado no setor –e 56% responderam afirmativamente.
A participação da iniciativa privada na telefonia convencional também é assunto constitucional no Brasil. Como a revisão da carta fracassou, a entrada do capital privado, nacional ou estrangeiro, também fica sem perspectiva.
Para 25% dos pesquisados, o problema não existe: eles preferem que apenas o governo explore a telefonia no país. Outros 18% disseram não saber opinar sobre o assunto.

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