São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 1994
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Estréia do real fica para julho ou agosto

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A data mais provável para a estréia do real já não é 1º de junho. As apostas se deslocam agora para 1º de julho, mas muita gente, dentro e fora do governo, considera possível que a nova moeda fique mesmo para 1º de agosto.
Como o governo se impos a regra de informar o lançamento da nova moeda com 35 dias de antecedência, a primeira data decisiva é o próximo 27 de abril. São, portanto, dez dias para o governo avaliar se há condições de entrar com o real em 1º de junho. É pouco tempo para os muitos problemas que o plano enfrenta.
Há pelo menos duas condições básicas para a introdução do real. A primeira é que a economia esteja operando em URV (Unidade Real de Valor). A segunda, que a inflação em cruzeiros reais se mantenha estável, isto é, que repita o mesmo índice por um período razoável, de três meses, por exemplo.
A primeira condição está longe da realização. As tarifas dos serviços públicos (energia, combustíveis, telefone etc) só estarão totalmente convertidas em URV no final de maio, disse o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero.
Essas tarifas são itens importantes no custo de produção de todas as mercadorias. Assim, a atividade econômica só poderá acomodar-se inteiramente à URV a partir do final de maio, quando for conhecido o nível real das tarifas.
Além disso, indústria e comércio ainda não acertaram seus negócios em URV. O comércio, que pagava a prazo para a indústria e vendia à vista para o consumidor, obtinha ganho financeiro aplicando o dinheiro recebido. Esse ganho desaparece com a URV.
Só que o comércio quer um desconto grande o suficiente para cobrir a perda do ganho financeiro. E a indústria, naturalmente, quer dar o menor desconto possível. Enquanto isso não se acerta, a economia não se estabiliza.
A outra condição para a entrada da real - a estabilização da inflação - só poderá ser avaliada em junho. No primeiro mes da URV, março, a inflação em cruzeiros reais variou de 41,9% a 45,7%. Uma pela outra, a URV ficou em 43,5%. É possível que repita o índice neste mes, indicando que não há inflação nova.
Em maio, porém, o preço de roupas de inverno pode fazer o índice ir além dos 43,5% e aí será preciso esperar a inflação de junho para checar se não há outros fatores de alta.
O governo não tem pressa. As regras de emissão do real nem estão definidas, conforme confirmou o presidente do Banco Central, Pedro Malan. E ele recusa o comentário segundo o qual o governo estaria atrasado. "Não estamos perdidos", comentou, "estamos nos beneficiando do tempo e do debate".

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