São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 1994
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Condenação por juíza interrompe 'coleção' de absolvições de bicheiros

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

Até serem condenados ano passado por formação de quadrilha armada, os principais bicheiros do Rio colecionavam absolvições, arquivamentos e trancamentos de processos.
Bicheiros como Castor de Andrade, Aniz ("Anísio") Abraão David e Raul Corrêa de Mello, o "Raul Capitão", foram absolvidos até da acusação de serem aquilo que todos sabiam que eles eram: banqueiros do jogo do bicho.
Infrações à Lei de Contravenções Penais acumulam-se nas folhas de antecedentes da maioria dos integrantes da chamada cúpula do jogo do bicho.
A ficha de Castor registra 16 processos, seis relacionados com a exploração do jogo do bicho. Em outros processos, Castor era acusado de ter cometido crimes mais graves como homicídio, lesões corporais e contrabando.
A impunidade é o denominador comum de todos estes casos: na coluna que informa o resultado dos processos surgem palavras e expressões como "absolvido", "anulado" (o processo), "impronunciado" e "arquivado".
A maior das fichas é de "Raul Capitão", onde estão registrados 38 processos, o primeiro, datado de 20 de fevereiro de 1931.
"Capitão" entra no livro dos recordes da contravenção carioca com 29 processos relacionados à exploração de jogos de azar. No total, "Capitão" acumulou cinco condenações.
O processo mais grave é de 1975, quando ele foi acusado de homicídio qualificado. Ele acabou impronunciado.
Carlos Teixeira Martins, o "Carlinhos Maracanã" é outro que tem ficha longa e antiga –a primeira anotação refere-se a um processo de 1954.
Na década de 50 aparecem na ficha de "Maracanã" processos relacionados com os artigos 180 do Código Penal (receptação) e 279 (venda de substância avariada).
A primeira acusação de homicídio transformada em processo data de 1961 –outras duas ocorreriam em 1968 e 1973. A folha de antecedentes não registra condenações nestes processos.
Os processos por contravenção acumulam-se a partir da década de 60 e chegam a 22 em 1992. Na coluna de resultados, a monotonia de sucessivas absolvições.
A anotação mais grave na ficha de "Anísio" é de 1981, quando ele foi acusado de cárcere privado e de cometer lesões corporais. A absolvição é revelada por um traço na coluna resultado.
Duas condenações interrompem a sequência de absolvições de Luiz Pacheco Drummond, o "Luizinho". Ele foi obrigado a cumprir penas por explorar jogo de azar em lugar público e por ter sido flagrado armado sem autorização.

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