São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 1994
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A Copa do Mundo não é liga de Vôlei

MARCELO FROMER; NANDO REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Cresce a expectativa com a chegada de mais uma Copa. E é nesse momento que um fenômeno particular deste magnético esporte dá o ar de sua graça.
Torcedores e torcidas acostumados à ferrenha rivalidade, seja ela regional, nacional ou passional, se vêem diantes de uma nova realidade pouco comum e que só se dá quando a seleção de nosso país está em campo.
Bandeiras de todos os clubes se agitam, mas nas arquibancadas a soma de todas essas cores parece se fundir em duas só: torcedores unidos por um objetivo maior e único deixam a condição de arqui-inimigos para juntos torcerem fraternalmente para o selecionado brasileiro.
Indivíduos que há apenas alguns dias se atracavam no estádio, logo logo estarão se abraçando nas calçadas para comemorar o triunfo, ou derramarão juntos lágrimas salgadas que virão acompanhar as fatídicas derrotas.
E, nessa hora que os ânimos estão prestes a se acirrar, fomos alertados por amigos próximos sobre o fato de que, em nossos artigos, evidenciavamos com clareza e ênfase a preferência por um clube da capital.
A princípio a indignação que tomou conta de nós irritou ainda mais os nossos interlocutores durante o embate: "Vocês estão cegos e essa talvez seja a pior forma da ignorância".
Mais uma vez estávamos sendo mal entendidos. Ou quem sabe nos expressando mal. Não se trata de negar a nossa inquestionável incipiência no ofício. E por isso talvez ainda sobrecarreguemos em algumas das tintas que imprimem as cores de que tanto reclamam nossos amigos. Mas de maneira nenhuma por protecionismo ou condescendência demasiada.
E daí novamente esbarramos no paradoxo que rescende dessa questão: como achar a medida da razão que deve estar presente na forma de isenção quando se trata de falar sobre a paixão?
Foi o nosso envolvimento com um time e a consequente devoção apaixonada pelo assunto do futebol em geral que acabou, anos mais tarde, nos fazendo colunistas deste caderno. Simplesmente pelo fato de que foi através do estímulo básico de acompanhar o nosso time de origem, cada vez que ele entrava em campo, que passamos a conhecer a complexidade e o mistério desse fenômeno, criando assim o lastro de conhecimento que nos permite refletir e analisar sobre esse mesmo assunto com alguma autoridade.
Ou seja, a partir de um time passamos a compreender todos os outros e, dessa maneira, admirar o futebol na totalidade.
A crítica da qual fomos alvo também foi feita por outros torcedores que tem seus times de coração. E é natural que a tenham feito com muita emoção e calor, ingredientes básicos para uma discussão futebolística. Aos torcedores de todos os times nós mandamos um abraço, mas não achamos necessário enviar nenhum pedido de desculpas. Todos nós no fundo sabemos do que estamos falando. Essa é uma coluna dedicada aos apreciadores do futebol.
Quem não puder entender isso é melhor ligar para o disque-Giggio.
Com o Teimoso faltam apenas 60 dias para começarmos a perder mais uma Copa.

Nando Reis e Marcelo Fromer são integrantes da banda Titãs

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