São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 1994
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Os Raimundos lançam heavy-sertanejo

FÁBIO MASSARI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os Raimundos estão chegando, finalmente. O finalmente fica por conta do fim de uma síndrome que é razoavelmente recorrente no rock e que é quase sempre muito perigosa.
Ser, durante um bom tempo, uma banda daquelas que muita gente ouviu falar, que todo mundo comenta, mas que poucos realmente ouviram, já complicou a vida de alguns bons nomes do underground brasileiro. Talvez esse não seja o caso dos Raimundos.
Esgotou-se o termo "forró-core" (que saiu da própria boca da banda para cair em mãos ineptas), confundiu-se a simpatia e a "força" do selo dos Titãs Banguela Records (que lança o disco), correu-se, e muito, atrás do descobridor/produtor Carlos Eduardo Miranda. E agora vem chegando o motivo disso tudo, ou melhor, a única resposta para tudo isso: o disco.
Seu segredo só será desfeito mesmo quando ele chegar às lojas, em lançamento previsto para maio, mas as rádios já recebem a partir de hoje duas músicas, a serem escolhidas para "trabalho" de acordo com a vontade de cada um.
"Nêga Jurema", que já tem clipe na MTV, traz os Raimundos desfilando em ritmo meteórico sua ladainha heavy-sertaneja. As letras são um grande tempero no som da banda, mas exigem um certo esforço para compreensão. Nada que uma boa sequência de "ouvidas" não cure.
A faixa "Puteiro em João Pessoa (Roda Viva)" é "rock pesado" brasileiro, com o ideário dos Raimundos sendo descascado em meio a guitarras contaminadas, baixo esguio e bateria de maracatu-core, se é que isso existe.
Motivo de expectativa é a balada "Selim", com a afirmação de um instantâneo coletivo que diz mais ou menos o seguinte: "Como eu queria ser o selim daquela bicicleta...".
Os Raimundos dão o que falar, e isso é bom. Mas o melhor é ouvir. E o ideal é não esperar por um disco-tratado sobre a nossa realidade que faça fusões com a tal da sonoridade nordestina. Isso é até discutível, mas fique com o lado santíssima trindade rock dos Raimundos: sexo safado, drogas leves e muito, muito rock'n'roll.

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